A conjunção carnal que gerou nosso mundo, o rearranjo da ordem e o impeachment de Dilma




Por Fernando Lobato_Historiador

     O mundo global em que vivemos nasceu da conjunção carnal entre a política e a economia, ou seja, foi fruto do que Eric Hobsbawn definiu como dupla revolução (Industrial e Francesa). Desde então, o controle do aparato estatal pela burguesia tornou-se vital no azeitamento das engrenagens do capitalismo, um sistema que rotineiramente entra em crise porque a crise faz parte do seu modus operandi da mesma forma que a corrupção dos agentes de estado também faz.
Partidos, dentro dessa lógica, não existem para garantir o funcionamento do processo democrático, mas para garantir os interesses da burguesia que os cria e controla. Eis porque tais partidos não funcionam sem o financiamento privado de campanha, pois são as grandes corporações que os sustentam. Acabar com esse financiamento é, portanto, um modo eficaz de cortar a seiva que os nutre e eis porque Eduardo Cunha, Temer, Aécio, José Serra, Alckmin e tantos outros defensores dessa corrupção sistêmica fizeram de tudo para impedir o fim total do financiamento privado.
Hoje, na sessão que pode definir o impeachment de Dilma, são essas mesmas figuras que estão na liderança do processo de afastamento de uma presidente que, apesar de atender quase todas as exigências do mercado, insiste em continuar com Bolsa Família, com Minha Casa Minha Vida e outros programas sociais que agregam uma expressiva base eleitoral ao PT. Até recentemente, distribuir tais migalhas aos de baixo era aceitável, porque a conjuntura econômica estava tranqüila e favorável, mas agora, quando a maré mudou e impõe o aumento das reservas para a turma de cima, foi preciso "satanizar" esses programas para que a nossa economia possa, enfim, ser “exorcizada”.
Anos atrás vaticinei aqui nesse mesmo espaço que o Brasil em breve seria a Grécia e minha previsão já começou a se confirmar, infelizmente. Menos mal que não fazemos parte da Zona do Euro e sim do Mercosul, e esse, com toda a certeza, é também um dos motivos que explicam a exigência do impeachment de Dilma pelo mercado internacional. A corrupção é apenas o mote para mobilizar a massa para que esta aceite como necessário o que vai ser usado contra seus próprios interesses. SE TEMER ASSUMIR MESMO, PREPAREM-SE PARA OS PACOTES DE MALDADE CONTRA TRABALHADORES E SERVIDORES PÚBLICOS.
O problema é que se Dilma ficar, será ainda mais pressionada a ceder com o fim de levar adiante o mesmo pacote de maldades que Temer (o temeroso) executará. Basta lembrar que ela se elegeu com discurso anti-Aécio e PSDB, mas tem governado como se fosse uma tucana e, somente agora, quando sentiu o fogo do impeachment queimando-lhe as nádegas, ensaiou uma marcha a ré convocando Lula para assumir o controle. Isso também explica a obsessão dos reacionários em impedi-lo de tentar cumprir a missão.
Não será fácil a sobrevivência política de Dilma, Lula e PT porque a pressão (interna e internacional) é muito grande e por isso comparo 2016 com 1954. Naquele momento, a senha do golpe era a acusação de que Getúlio era assassino, pois teria mandado executar Carlos Lacerda e hoje os argumentos são outros: petrolão, pedaladas, etc. Nada disso, porém, é o real motivo, pois a corrupção, como sempre tenho dito, é parte integrante desse sistema que nos governa e oprime há muito tempo. Ele não funciona sem ela e, por isso, logo depois de Dilma, o próximo alvo será a LAVA JATO.

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