As bundas expostas na janela, a República das Empreiteiras (1985-2016) e a operação salva o Cunha a qualquer custo

A queda de Cunha e sua condição de novo delator na Lava Jato é tudo que Temer não quer: vem aí a Operação Salva o Cunha a qualquer custo

Por Fernando Lobato_Historiador

Os historiadores gostam de dividir a História em fases e, a do Brasil Republicano, começa com a República Velha (1889-1930), seguida pela Era Vargas (1930-1945), República Populista (1946-1964), Ditadura Militar (1964-1984) e, finalmente, Nova República (1985 aos dias da crise atual). Cada fase é identificada em função dos fatores que lhe deram sentido, ou seja, coronelismo e voto de cabresto na Velha, personalismo de Getúlio na Era Vargas, papel político das massas urbanas na República Populista, autoritarismo e papel das FA na Ditadura Militar e, por fim, a relação promíscua do estado com as empreiteiras que financiaram as campanhas da grande maioria dos eleitos no Executivo e no Legislativo na fase atual. Em 1985, fazia sentido chamar a fase atual de Nova República porque nada sabíamos ainda do seu modo de sustentação, bem diferente de hoje, em que é claro e cristalino o papel das grandes empreiteiras e corporações no processo de estruturação política, de modo que não é exagero chamá-la de República das Empreiteiras, iniciada, vejam só, com a posse de um vice, José Sarney, no plano mais alto da República, a Presidência.

A Castelo de Areia, a Lava a Jato e outras operações da PF nos revelaram que as grandes empreiteiras nacionais – que se tornaram grandes durante a DITADURA MILITAR - alicerçaram muito mais que prédios, pontes, estádios e usinas hidrelétricas, mas a própria República que, pasmem, significa COISA PÚBLICA, ou melhor, um bem do povo que deveria funcionar da forma mais transparente possível.  A “transparência”, ou melhor, a possibilidade de ver o que fazem os que estão dentro do estado, foi possível não porque mecanismos institucionais nos permitiram tal visão, mas porque a disputa de poder entre grupos mais antigos (PMDB, PSDB, DEM e PP) e novos (PT, PSB, PC do B e outros )  se acirrou e fugiu do controle a ponto de todos ficarem com as bundas expostas na janela. Toda fase histórica chega ao fim quando suas condições estruturantes se esgotam e, nesse sentido, o fim do financiamento empresarial de campanha representa também o fim da Nova República ou República das Empreiteiras e, tal como nos jazigos, onde se registram o nascimento e a morte, devemos colocar “1985-2016”. Curioso é notar que ela termina do jeito que começou, ou seja, com um vice do PMDB na presidência. O que isso significa? Que assim como os que agonizam lutam até o fim para sobreviver, a turma do PMDB liderada por Temer, Cunha, Calheiros, Jucá, Sarney, Jáder e outras ratazanas não entregará o osso facilmente e as próximas semanas serão de malabarismos e apostas arriscadas. A principal delas é a operação salva o Cunha a qualquer custo.