Por Fernando Lobato_Historiador
Será correto
afirmar que instâncias do estado brasileiro ganharam independência em relação ao
núcleo político que o dirige historicamente? Particularmente, penso que a
resposta deva ser um sim bem moderado e um não bem enfático. É um sim moderado quando
observamos, por exemplo, a postura do MPF e do STF no caso do Mensalão do
PT/PTB, que resultou na prisão, entre outros, de José Dirceu e Roberto
Jefferson, na época, deputados poderosos que protagonizaram aquela cena em que
Jefferson, na acareação realizada na Câmara, diz a Dirceu que ele lhe provocava reações animalescas (ver aqui). Ainda dentro do
sim moderado podemos citar, em especial, a atuação do ex-Ministro Joaquim
Barbosa no julgamento do mesmo mensalão, que acabou alvo, injustamente ao meu
ver, da fúria de uma militância petista que teimava em não querer reconhecer o
envolvimento do partido nos esquemas de corrupção revelados e que, verdade seja
dita, sempre existiram, mas que, nunca dantes na História desse país,
recuperando aqui uma expressão muito utilizada por Lula, foram sequer
investigados, que dirá punidos. Tanto isso é verdade que, a grande maioria dos
atuais prefeitos, governadores, deputados e senadores, se elegeu praticando os
mesmos crimes e, muito provavelmente, continuarão praticando-os se uma profunda
e séria reforma política não for feita em nosso país.
Mas a resposta
também é um NÃO enfático, pois o que se percebe a partir dos desdobramentos atuais
da Operação Lava-Jato, principalmente a partir da posse do atual Ministro da
Justiça, Alexandre de Moraes, é a sua progressiva transformação numa reedição
da República do Galeão de 1954, feita para constranger e obter a renúncia de Getúlio Vargas da
Presidência da República. É certo também afirmar que esta mesma operação,
independentemente da atuação do MPF e da PF, foi utilizada descaradamente pela
grande mídia, de forma seletiva e com claros fins golpistas, para enfraquecer a
ex-presidente Dilma Roussef e, por conseqüência, criar condições favoráveis ao
seu impeachment, principalmente em face das conseqüências que a crise política
gerava no campo econômico. A fala da maioria dos deputados e senadores que
votaram sim ao afastamento de Dilma raramente se baseava na constatação do
cometimento do crime de responsabilidade que a lei exigia, visto que a grande maioria
frisava sempre que o motivo maior era a necessidade de uma mudança no comando
político para que a economia tivesse novos rumos, ou seja, o que derrubou Dilma
não foi nenhum crime de responsabilidade e sim a vontade do mercado e foi essa
mesma vontade que colocou Temer no poder, não sem antes exigir dele uma série
de compromissos, tais como a PEC 241 ou PEC DO MAL.
O que uso da mídia
reacionária objetiva é a criação de uma ampla consciência contrária às políticas
de intervenção do estado na economia, ou seja, quer criar um caldo de cultura amplamente
favorável às políticas neoliberais que defende e das quais depende para atuar
sem ser ameaçada pelo governante de plantão. O que se quer, para além da
desmoralização total do PT e das políticas de intervenção na economia que a
esquerda tradicionalmente defende, é a manutenção de uma política econômica sem
nenhum freio aos interesses das grandes corporações privadas interessadas em
investir e lucrar enormemente no país. Um estado forte e atuante no campo
econômico é tudo o que essas corporações não querem nesse momento e, é com base
nisso, que a privatização da PETROBRÁS é vista como prioritária. Petrobrás que,
inclusive, é uma herança do projeto de desenvolvimento nacional iniciado com
Getúlio. Projeto que o mercado quer totalmente implodido em suas bases, sendo
esse o principal motivo da aprovação da PEC 241.
A prisão de Lula, logo depois
da prisão de Cunha, é algo esperado não porque o país está mudando e a justiça
e as instituições agora são independentes, mas, principalmente, porque o
mercado exige a sua capitulação total.
Se ele desistir de concorrer em 2018, a grande mídia o deixará em paz e
é bem provável que todos os condenados no mensalão e na Lava-Jato não demorem a
sair da cadeia. Só acreditarei de fato
em mudanças, se Moro e o STF mandarem pelo menos uns 200 políticos com e sem mandato para a cadeia, principalmente tucanos como Aécio Neves, José Serra e Geraldo
Alckmin, e lá fiquem por pelo menos uns
20 anos, ou seja, o tempo da PEC DO MAL que querem nos enfiar goela abaixo.
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