As armas químicas do Saddam, a PEC do Teto e o ataque ao estado democrático no Brasil


Por Fernando Lobato_Historiador

Quando governos decidem praticar maldades costumam justificá-las com argumentos que servem como cortina de fumaça para esconder seus reais objetivos. Foi assim quando George Bush, presidente dos EUA em 2003, invadiu o Iraque apelando para o “perigo” que as armas químicas de Saddam Hussein representavam para o mundo, passando por cima da ONU e da opinião pública internacional que era contrária a ação. Hoje, ninguém tem mais dúvida de que o bem estar do povo iraquiano passava longe das reais intenções dos “mocinhos da democracia" que invadiram aquele país e que seu objetivo concreto era o  controle das imensas reservas de petróleo ali existentes, sobretudo porque o Irã, vizinho do Iraque e outro mega produtor mundial, também era hostil aos EUA.

Temer, , no Brasil de 2016, com a cumplicidade da grande mídia e do Poder Legislativo, ataca as bases frágeis do nosso estado democrático através de uma PEC cujo fim é congelar o tamanho do estado por 20 anos - a PEC 55 em tramitação no Senado -, ou seja, limitando forçadamente o investimento público num país cujos gastos em educação e saúde ficam em torno de 4% ao ano (ver aqui) e cuja demanda tende a crescer ano após ano. Somente até maio desse ano, 1,3 milhão de brasileiros deixaram de ter planos de saúde privada e, portanto, passaram a depender do SUS (ver aqui). A cortina de fumaça usada por Temer para esconder os reais objetivos da medida é o AJUSTE DAS CONTAS PÚBLICAS COM O FIM DE TIRAR O PAÍS DA CRISE ECONÔMICA. Nada mais ilusório e enganador porque a medida, no fim das contas, não pretende resolver nem uma coisa nem outra.

Não pretende ajustar as contas públicas porque o que faz a dívida crescer sem controle é a política de juros altos praticada pelo BC (ver aqui) e a PEC 55 nada fala sobre isso. Não pretende também tirar o país da crise por um motivo muito simples: a crise é o instrumento hoje utilizado pelas elites para manipular eleitoralmente a massa e o resultado das eleições de 2016 reforça essa tese. A crise é boa eleitoralmente para os reacionários e para seu projeto de aniquilamento de toda e qualquer oposição, sobretudo da esquerda, ou seja, dos que denunciam a perversidade das políticas neoliberais em vigor.  Não há interesse, portanto, de resolvê-la no curto prazo porque esta serve de instrumento de controle e sujeição da massa angustiada e infelicitada, que ignora que a mesma mão que lhe afaga e promete esperanças é a mesma que lhe causa a angústia e a infelicidade.

A crise do pós 1ª Guerra mundial levou a extrema-direita ao poder com Mussolini e Hitler na Europa, da mesma forma que, sem os graves efeitos da crise nos EUA e o ódio crescente aos imigrantes,  Trump não venceria a eleição presidencial de 2016 e esse é o motivo principal por detrás da colossal campanha publicitária fascista que observamos nos dias atuais. O fascismo, como sabemos, é mais um dos disfarces que os grandes capitalistas utilizam quando se encontram ameaçados nos seus projetos de poder ou quando necessitam impor medidas draconianas e autoritárias como a PEC do Teto dos Gastos Públicos, que atende, unicamente, às ambições imorais das grandes corporações privadas que financiam o processo eleitoral, sobretudo na compra de votos e no patrocínio da propaganda de massa.   

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