Clóvis Rossi, Fukuyama e a absolvição de Fidel


Por Fernando Lobato_Historiador

"Direita" e "Esquerda" no campo político são noções que derivam da Revolução Francesa (1789-1799), quando os monarquistas sentavam à direita e os jacobinos à esquerda nas assembléias políticas de então. Os conservadores ou direitistas defendiam a manutenção dos privilégios da nobreza e das desigualdades políticas que perpetuavam o poder nas mãos das elites ricas, enquanto os esquerdistas defendiam a instauração da República, o voto universal e o fim de todos os privilégios gozados pelo Clero e pela Nobreza. Atualmente, tais definições se relacionam, sobretudo, com a defesa do Liberalismo e do Capitalismo a ele atrelado, direitistas, e com a defesa de uma ordem comprometida com o combate às desigualdades sociais, políticas e econômicas que o capitalismo produz e que, via de regra, apoiam propostas socialistas, ou melhor, uma maior intervenção dos governos no combate a tais desigualdades, os esquerdistas.

Clóvis Rossi, escrevendo sobre a morte de Fidel Castro (ver aqui) disse que a esquerda morreu junto com ele tendo por base, talvez, a vitória de Trump nos EUA e a derrota do PT no Brasil em 2016, apesar de ser bem complicado atualmente definir o PT como partido de esquerda.  Dar crédito a tal afirmação significaria dizer que a humanidade, definitivamente, se convenceu que o sistema atual é o máximo e o melhor que se pode alcançar, apesar de nossa realidade se parecer com aquela descrita no filme Elysium (ver aqui). Defensores dessa perspectiva costumam achar que devemos nos conformar com a "justiça" social que temos, apesar de toda uma tecnologia disponível para atender praticamente todas as necessidades humanas no campo material (habitação, alimentação, educação, saúde, lazer, segurança, etc). Clóvis Rossi me fez lembrar de um outro “profeta” da História que, logo depois da queda do Muro do Berlim e do fim da União Soviética, admitiu a morte da própria História, na medida em que ela, segundo ele, não teria mais grandes mudanças a partir dali. Falo de Francis Fukuyama, historiador dos EUA (tinha que ser de lá), autor de The End of History.

A "profecia" de Fukuyama, portanto, não apenas não se concretizou como uma série de lideranças e movimentos de esquerda resurgiram a partir dali com grande vigor, sobretudo na América Latina, que assistiu a ascensão de nomes vinculados de alguma forma a esse campo político. Falo aqui de Hugo Chavez, Lula, Evo Morales, Rafael Corrêa e outros. E é esse fato, por sinal, que provoca a retomada da agenda imperialista dos EUA em nossa região, percebida numa série de intervenções indiretas na política interna daqueles que insistem em afirmar sua independência em relação à Washington. A "esquerda" e a transformação social, portanto, não morrem com Fidel e, bem ao contrário disso, deve experimentar, em breve, uma nova forte ascensão, agora num patamar mais elevado e amadurecido pelo erros das experiências até aqui verificadas. 

Para concluir, já que Fidel, o maior líder cubano de todos os tempos, disse que a História o absolveria, ouso dizer que ele, não apenas estava correto, como acho que ela já o absolveu, pois os seus acertos foram bem maiores que seus erros. Fidel, obviamente, não morreu, apenas teve seu corpo físico cremado, visto que continuará vivíssimo no espírito e coragem do povo cubano, que, não tenho dúvidas, saberá manter as conquistas até aqui obtidas, sobretudo porque trata-se de um povo instruído e de grande firmeza moral. 

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