Por Fernando Lobato_Historiador
Honra é um bem não financeiro, mas de enorme valor
para aqueles que a defendem até com risco da própria vida. Honra tem haver com respeito
por princípios invioláveis e inatacáveis e que, portanto, precisam ser defendidos
quando ameaçados. A honra, por fim, é um bem existente tanto no campo
individual quanto no coletivo. A ação coletiva pode atuar para preservar a
honra individual de alguém, mas há também casos em que uma ação individual tem
o poder de “lavar” a honra de toda uma coletividade. A ação do ministro Marco
Aurélio determinando o afastamento de Renan Calheiros da Presidência do Senado
foi um exemplo desse último tipo e, portanto, deve ser saudada e parabenizada.
Cinismo,
por sua vez, segundo o site “significados.com.br”, pode ter como definição “um
homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos
nem as convenções sociais. Um cínico, diz ainda o site, “é alguém que pode ser
considerado desavergonhado, descarado, imprudente, impassível e obsceno” (ver aqui). Resumindo, é uma definição que se encaixa como luva na figura do atual
presidente do Senado Federal, ou seja, da terceira autoridade na hierarquia
sucessória da República Brasilis. A permanência de Renan, portanto, em cargo de
tal relevância depois de 12 inquéritos consistentes contra ele, é, até hoje,
uma situação extremamente desonrosa para toda a nação brasileira, mas,
sobretudo, para o próprio STF.
O
STF tem sido muito desonrado ultimamente, principalmente depois da conversa
vazada de Sérgio Machado, onde Romero Jucá, oito inquéritos na Lava Jato e líder
do governo Temer no Congresso – outro caso de cinismo extremo -, insinua um
acordo com o STF para afastar Dilma e estancar a “sangria” provocada pela Lava
Jato. A conversa veio a público e nenhum ministro emitiu uma linha sequer esbravejando
contra insinuação tão desonrosa. Diz o ditado que aquele que cala consente e a
permanência do silêncio sobre insinuação tão gravosa deixa a nação, eu incluso,
com as barbas de molho sobre as decisões que ainda serão proferidas contra os
inúmeros políticos já denunciados ao órgão.
Fora
isso, temos ainda o fato de nenhum político envolvido na Lava Jato ter sido julgado. Cunha está preso porque perdeu o direito a foro privilegiado e Renan, 12
inquéritos depois, somente agora virou réu no 1º. Nosso cínico, falando
hoje sobre sua permanência na presidência do Senado, frisou que está a apenas 08
dias do fim do seu mandato e, ao nos lembrar desse detalhezinho importantíssimo, colocou em cena a relevância do ato de Marco Aurélio que quero aqui destacar,
ou seja, que a caneta do ministro acabou tendo um poder redentor, ainda que
parcialmente, para o órgão do qual faz parte. Não é também a 1ª vez, visto que
foi graças a uma ação sua que Teori se viu obrigado a afastar Cunha da
Presidência da Câmara (ver aqui). Marco Aurélio, mais uma vez, forçou uma
votação do colegiado do STF para evitar uma omissão que, caso se confirmasse,
seria mais um caso de desonra extrema perante uma nação aflita e bastante
desesperançosa.
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