a ausência de santidade, a desumanidade e a guerra de facções entre os vampiros do Palácio da Compensa
Por Fernando Lobato_Historiador
“Não havia nenhum santo”, disse José Melo, tentando
minimizar as dezenas de mortes na rebelião do COMPAJ. E se não eram santos, no
raciocínio de Melo, não deveria haver motivos para choro, lamento ou horror com
as barbaridades ocorridas em dependências que o estado tem por dever controlar.
O descaso de Melo com os presos choca, mas é tão somente uma das inúmeras faces
do desgoverno instalado por ele no Amazonas. Desgoverno que é fruto dos acordos
e tramas que Melo fez para mobilizar grana e apoios para vencer seu rival e
ex-chefe no 2º turno de 2014. O acordo com a FDN que a PF investiga, o milhão
entregue a Nair Blair para a compra de votos que gerou sua cassação pelo TRE-AM,
a mobilização da PM para atuar como cabo eleitoral são exemplos das traquinagens
feitas para vencer Braga nas urnas. Não se pode nem dizer que ele vendeu a alma
ao diabo para chegar ao poder porque Melo está no poder desde 1989, quando se
tornou Secretário de Educação de Amazonino.
Estar no poder, todavia, não é o mesmo que pilotar o
poder e, muito provavelmente, foi esse sentimento de “incompletude existencial”
que fez Melo se vampirizar completamente. Explico: Em 1989, Amazonino “mordeu-lhe
o pescoço” para fazê-lo seu secretário e, nessa ocasião, introduziu-lhe, nas
veias, a droga da “sede insaciável de poder”, responsável pela completa
desumanização de quem recebe tal mordida. Melo, é sempre bom lembrar, foi
Secretário de Governo de Braga de 2003 a 2010, ou seja, o seu principal pau
mandado, mas também o terceiro na hierarquia vampiresca amazonense, pois Omar,
o vice, era o segundo. Omar resolveu sua incompletude quando se tornou
Governador em 2010 e Melo, promovido a vice, subiu mais um degrau. Com a ida de
Omar para o Senado, Melo pode, enfim, saciar os desejos de sua incompletude
reprimida por tantos anos a fio, mas, depois de “drogar-se” com o poder maior, ficou
dele dependente a ponto de recusar-se a entregá-lo de volta para seu ex-chefe.
E assim, a organização vampiresca amazonense se
dividiu em facções rivais, ficando Melo e Omar numa delas. Na rebelião de 2014,
Melo levou a melhor sobre Braga, mas a um custo muito alto com os vampiros
apoiadores e, pelo que se observa, nessa horda estavam a Umanizzare e muitas outras
empresas aquinhoadas com nacos generosos da “administração pública”. A
incompletude existencial de Melo, portanto, lhe colocou fardos pesados que ele
não quer e não vai carregar, pois eram os bônus e não os ônus do cargo que hoje
ocupa que lhe produziam brilhos especiais nos olhos e, enquanto puder enrolar a
platéia, fingirá solucionar problemas fazendo pose de estadista, pois o que lhe
interessa agora é ficar o maior tempo possível usufruindo dos bônus que lhe
consumiram tanto tempo e dedicação. E o Amazonas como fica nessa história? Se
depender do “bom velhinho”, o Amazonas que se lasque, visto que, se na
realidade prisional não há santos, na ordem vampiresca não há humanidade e,
portanto, inexistem os sentimentos e preocupações que comumente nos afligem e
inquietam.
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