A gravação mais importante, o roteiro do "profeta" Jucá e o fator STF



Por Fernando Lobato_Historiador

A homologação das 77 delações de executivos da Odebrechet barrada pela queda do avião com o Teori é fundamental para o avanço da Lava Jato pela abrangência dos poderosos ameaçados se a lei for mesmo aplicada para todos. O momento é, com certeza, decisivo e de grande importância, mas é sempre bom lembrar que a coisa chegou até aqui por conta de delações surpreendentes e bombásticas e, nesse sentido, nenhuma até aqui supera a de Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro, subsidiária da PETROBRÁS, colocado no cargo para saciar a gula de milhões da cúpula do PMDB de Temer. Na delação deste, felizmente homologada a tempo por Teori, está a mais reveladora e “profética” gravação até aqui vazada. Falo daquela em que Machado conversa com Romero Jucá, talvez o maior arquiteto da trama armada não apenas para golpear a democracia brasileira, mas, sobretudo, para garantir a continuidade dos podres poderes e dos poderosos podres que nos governam há bastante tempo.

Tirar a Dilma, botar o Michel, entregar o Cunha e parar o Teori são ações que aparecem no diálogo entre Machado e Jucá e que são tratadas como fundamentais para que a cena final “da novela Brasil” coincida com o fim da própria Lava Jato. O fim, no roteiro traçado por Jucá e Machado, terminaria, portanto, com toda a politicalha nacional sorrindo feliz com o fim da sangria que a Lava Jato tem provocado até aqui.  O que assusta e deixa os brasileiros com a barba de molho é o fato de que quase toda a sequência “profetizada” já se consumou, inclusive a paralisação do Teori. Uma das questões mais debatidas nas redes sociais, logo depois da morte do ex-ministro, era sobre a próxima “profecia” Jucá-Machadiana em vias de se consumar.

É importante destacar que Jucá, na gravação vazada, sugere que a sangria seria estancada com um grande acordo nacional que envolveria até mesmo o STF. No impeachment de Dilma e na garantia de posse de Temer está claro por demais que o STF, se não participou efetivamente do acordo, como sugeriu Jucá, também não dificultou em nada a consumação do roteiro “profetizado”. No caso de Eduardo Cunha, o STF acatou o pedido da PGR e afastou o então Presidente da Câmara, ou seja, decidiu dentro do roteiro “profético” aqui tratado. O próximo item do roteiro, paralisar o Teori, é cavernoso e sério demais para suspeitarmos da participação do STF, apesar de que, nas teorias da conspiração que povoaram a internet nesses dias nebulosos, nada tenha sido efetivamente descartado. Chegamos então ao último ponto: estancar a sangria, ou seja, impedir o avanço da Lava Jato.

         Para aqueles que não estão no governo ou não possuem mandato, como Sérgio Cabral e Eike Batista, ela parece, por enquanto, seguir seu curso para nos dar a impressão de que existe mesmo justiça em nosso país, mas a questão que tem profunda relação com a morte de Teori é: Ela poderá continuar seu curso sabendo-se que nem Temer, nem nenhum membro de seu governo e quase nenhum de seus aliados no Congresso ficará de pé quando os fortes jatos de água da Odebrecht forem lançados contra eles?

        Se nos orientarmos pelo roteiro “profético” de Jucá, já temos a resposta antecipada, ou seja, que o STF, como parte do grande acordo nacional para estancar a sangria, tornará os jatos tão fraquinhos que eles, no máximo, lançarão algumas gotas nos delatados e estes, com um pequeno lenço, poderão enxugá-las rapidamente para ficar sequinhos de novo e, portanto, prontos para receber novos votos do "eleitor". Como ficam então os que desejam vê-los lavados à Jato? Para esses digo o seguinte: Se o roteiro “profético” for mesmo confirmado, experimentaremos um cheiro insuportável de pizza no ar em face da imensa fornada que será assada. Devo dizer: vai ficar difícil respirar nesse país. 

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