Por Fernando Lobato_Historiador
A Lava Jato é
um fato importante na História do Brasil porque escancarou para todo mundo ver o modus operandi do estado brasileiro há
várias décadas. Nos revelou, portanto, um estado nacional capturado por
organizações privadas que dele se nutrem e que são fundamentais na manutenção do
poder dos que aceitam “governar” nesse jogo de cartas marcadas que tem como
grande vítima o povo brasileiro. Através dela, ficamos sabendo também que carreiras
políticas longevas e bem sucedidas se sustentam através de um toma lá dá cá que
enriquece da noite pro dia a grande maioria dos “representantes” do povo.
O Brasil, portanto, nunca teve democracia de
fato, apenas a manutenção de um fiozinho muito frágil da mesma para nos dar a
impressão de que o voto do eleitor é decisivo no processo.
Nada mais enganador, visto que, provavelmente desde o fim do governo JK
(1955-1960), temos vivido sob as botas bem pesadas de uma DITADURA DO MERCADO
que somente foi confrontada parcialmente na presidência de João Goulart
(1963-1964). Naquele momento assistimos a fúria da politicalha alinhada com o
sistema, aliançada com organizações civis criadas artificialmente para dar a
impressão de que era a sociedade e não o mercado que se insurgia contra o
governo. No fim dessa história, sob o velho e manjado pretexto de livrar o país
do comunismo, tivemos uma longa noite ditatorial de 21 anos.
A Ditadura
Militar, portanto, foi a exacerbação da Ditadura de Mercado, ou melhor, da
Ditadura do capital estrangeiro que, desde JK, vinha dinamizando um
desenvolvimento econômico refém do apetite voraz de banqueiros ávidos por juros
cada vez maiores e que tornaram nossa dívida crescentemente impagável, resultando na imposição de uma carga tributária penosa e injusta, sobretudo, com a classe
trabalhadora. Um segundo momento de confrontação parcial da Ditadura do Mercado ocorreu
bem recentemente, no 1º governo de Dilma Roussef (2011-2014).
Dilma, assim
como Lula (2002-2010) e JK (1955-1960), também optou por uma política de concessões
ao mercado como moeda de troca para o apoio deste ao seu governo, sendo esta a razão
do crescente lucro dos banqueiros no período petista. Todavia, apesar
disso, não deixou de fortalecer também os
organismos de financiamento estatal (BNDES, BB, Caixa e outros) e, por fim, alinhavou
uma aproximação crescente com a China e a Rússia que resultou no ambicioso
projeto do BANCO DOS BRICS que, se avançasse, permitiria ao país uma relativa
libertação em relação aos bancos privados, que viram nisso uma tentativa de
rasteira indesculpável. Dilma caiu não por causa das tais pedaladas, caiu
porque o mercado exigiu e porque a Lava Jato avançou longe demais, ou seja, ao
ponto de nos revelar o funcionamento da ditadura que nos aprisiona há muito
tempo.
Se tornou
imperativo, portanto, usando as palavras de Romero Jucá, que a sangria de reputações e segredos fosse estancada a
qualquer custo e isso explica a euforia e corrida do mercado à compra de
ações um dia depois da morte de Teori. A
Ditadura e o sistema político que ela sustenta são capazes de derrubar não
apenas aviões com inocentes dentro, visto que derrubar e jogar ao chão é a sua especialidade. Ela nos derruba e joga no chão todos os
dias nos impondo o pagamento de serviços privados em educação, saúde, altas
tarifas bancárias e de transporte público, elevado preço da gasolina apesar do
aumento na produção de petróleo e até previdência privada complementar. Se não
bastasse tudo isso, ainda nos impõe uma das mais brutais cargas tributárias do
mundo.
A Lava Jato, como pedia Cazuza em sua música, fez o Brasil mostrar a sua cara e vimos que ela é feia e horrenda. A Ditadura, portanto, quer apagá-la de nossas mentes para nos impor a amnésia e a sensação de que somos livres, apesar de duramente escravizados por ela.
A Lava Jato, como pedia Cazuza em sua música, fez o Brasil mostrar a sua cara e vimos que ela é feia e horrenda. A Ditadura, portanto, quer apagá-la de nossas mentes para nos impor a amnésia e a sensação de que somos livres, apesar de duramente escravizados por ela.
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