O crime organizado, a sociedade desorientada e o "acidente" de nome Temer


Por Fernando Lobato_Historiador

As rebeliões em Manaus e Roraima, onde facções se digladiaram mortalmente às dezenas em nome do “direito” de comandar o tráfico de drogas no norte do Brasil, demonstram que tem algo que vai progredindo de vento em popa no país, ou seja, a capacidade organizativa e operacional dos que agem ao arrepio das leis não apenas de Deus, mas, sobretudo, daquelas feitas pelos homens que dizem representar os seus eleitores nas sessões legislativas. A visível evolução organizativa e operacional do crime se mostra não apenas nas celas luxuosas e no poder crescente dos chefões das facções, senhores da vida, da morte e da normalidade ou não do cotidiano nas grandes e médias cidades, onde o tráfico de drogas é livre na prática, mas criminalizado no papel para garantir que os criminosos que operam nas entranhas estatais possam reivindicar verbas cada vez mais vultosas para “combater” o mesmo mal que, por baixo dos panos, fomentam e incentivam seguindo fielmente a máxima capitalista do laissez faire laissez passer.

O tráfico de drogas, tanto no presente brasileiro quanto no passado dos britânicos que traficavam ópio da Índia para a China com total apoio da Rainha Vitória (ver aqui), sempre foi um dos mercados mais lucrativos e pujantes do capitalismo global. Os governos do sistema não incentivavam e apoiavam apenas as indústrias mecanizadas, mas também a indústria das drogas. Recentemente tivemos norte-americanos e ingleses juntos na invasão e combate ao “terrorismo” no Afeganistão e no Iraque. No Iraque, o “sanguinário e cruel” Saddam Husseim produzia petróleo à revelia dos interesses yankes e, no Afeganistão, os talibãs faziam algo ainda mais intolerável aos nossos paladinos da “moralidade e bem estar do mundo ocidental”: desmontavam a produção de ópio na região. Nossos “mocinhos” ocidentais, porém, restabeleceram a “ordem” por lá e, desde então, a produção afegã de ópio disparou e, hoje, representa 90% da produção mundial (ver aqui). Se há hoje um lugar onde a eficiência produtiva neoliberal é exemplar, esse lugar é o Afeganistão, pátria mundial do ópio.

Os governos capitalistas não apenas protegem o tráfico como sua classe política também serve de exemplo para a crescente organização das facções criminosas, afinal, nesse segmento, o crime não apenas compensa como transforma o criminoso em figura merecedora de honra e respeito de uma sociedade cada vez mais perdida e desorientada pela completa inversão de valores. Em nosso global e capitalista mundo neoliberal, onde o lucro justifica os meios, sejam eles quais forem, o crime compensa e muito. Temer, por exemplo, chamou de “acidente” o massacre de Manaus porque sabe muito bem que “acidentes” tem tudo para acontecer e, se hoje ocupa a Presidência, é exatamente por conta de um que aconteceu devido as “pedaladas" que Dilma e ele teriam praticado, mas que "acidentaram" apenas a ex-presidente.   Temer é, portanto, o maior exemplo de que “acidentes” pavorosos podem favorecer absurdamente os que sabem se beneficiar do resultado que os tais provocam.
     



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