Por Fernando Lobato_Historiador
Entre os
significados de BLEFE está o de ação com o fim de induzir outros a pensarem que
algo é verdadeiro quando de fato não é (ver aqui) e essa tem sido a sina de
Temer desde que chegou ao plano mais alto da república (o Planalto). E esse impulso
blefista decorre da ética que, pelo menos em tese, se espera de quem está na
sua posição, ou seja, um compromisso com a verdade, se não verdadeira, pelo
menos aparente. O problema dos blefes do
Temer é que eles são absolutamente inócuos porque quase ninguém
acredita, exceto, talvez, os convencidos de que ele não é um golpista. Quando
ele diz que seu governo não tem nada contra a Lava-Jato, todo mundo fica logo na
expectativa de ações para enterrar de vez a operação que tem o MPF e a PF como
protagonistas centrais. Quando ele disse que não era inimigo do trabalhador
(ver aqui), até os mais otimistas perderam o sono com o anúncio das reformas
trabalhista e previdenciária e ele, por sinal, não decepcionou nem mesmo os
mais pessimistas, pois até membros da conservadora OAB classificaram-nas como um saco
cheio de maldades (ver aqui e aqui).
A necessidade
de manter uma atmosfera permanente de blefes força o governo Temer a reforçar continuamente
o tom no blefe mais importante de todos: o de que o GOLPE NÃO FOI GOLPE e, que,
portanto, não se deve insinuar que houve uma ruptura democrática no país. E foi a
necessidade de reforço nesse blefe central que forçou Roberto Freire a “presentear”
Raduan Nassar e os presentes na cerimônia de entrega do prêmio Camões com farta
e espontânea CURTURA. Curtura nos modos diplomáticos que o momento exigia e
curtura na capacidade de entender que se tratava de um prêmio internacional a um
escritor que é crítico feroz do atual governo e que críticas durante o evento eram não só naturais como absolutamente previsíveis. Freire poderia ter feito uma
fala meramente protocolar e sem ênfase na contestação do premiado, mas a ordem de Temer o forçou ao apelo à CURTURA, pois o blefe
central precisava ser reforçado diante de uma platéia que incluía notáveis do exterior que poderiam sair com a impressão de que uma ditadura foi implantada no Brasil. O tiro, no final das contas, saiu pela culatra, visto que, se alguns ainda duvidavam, passaram a ter certeza. No final, a CURTURA de Freire redundou na CURTURA da platéia, que se
sentiu, com toda razão, profundamente ofendida e agredida com o episódio (ver aqui).
E já que o país se prepara para o ponto "G" das festas
momescas, onde homem vira mulher e mulher vira homem impunemente e sem censura,
Alexandre Moraes, já embalado no clima, tascou uma piscadela prá lá de reveladora
das permissividades de sua indicação ao STF. O alvo da piscadela foi o Senador
Edson Lobão, presidente da CCJ, ou seja, do órgão dentro do senado que define o
que é e o que não é constitucional. No clima de permissividades em que o
Legislativo está imerso há espaço até para por um LOBÃO cuidando do grande
galinheiro em que o país foi transformado. E já que botaram o lobo em lugar tão
impróprio, ele nem sequer se esquiva de um possível sumiço repentino das
galinhas quando diz que uma futura lei de ANISTIA aos crimes de caixa dois é
algo pra lá de constitucional (ver aqui) e, portanto, prá lá de natural num
país com classes dominantes tão permissivas e espontâneas. Espontaneidade expressa
na piscadela de Moraes pra Lobão que para qualquer bom entendedor pode ser lida mais ou menos assim: Tamo junto e
misturado!!!
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