A crise, o fantasma e o velho serviçal


Por Fernando Lobato_Historiador


A massiva propaganda de direita que inunda a internet e a mídia corporativa está diretamente relacionada com a crise atual do sistema capitalista, ou seja, é um fenômeno de dimensão mundial. Toda propaganda massiva objetiva generalizar comportamentos não reflexivos ou críticos, ou melhor, IRRACIONAIS e CONTRADITÓRIOS, sendo essa uma das explicações para tanta gente pobre e lascada reproduzindo  idéias conservadoras de forma quase automática. Eis porque, com toda razão, o termo FASCISMO cabe com precisão  na definição de algo que não é inédito, visto que, da década de 1920 até o fim da 2ª Guerra Mundial, foi a arma das elites nacionais para criar pânico e, ao mesmo tempo, barreiras à penetração das idéias socialistas que fermentavam na Europa desde o final do Século XIX e que, em 1917, levaram Lênin ao poder na Rússia.

Idéias que fermentavam e que eram rapidamente assimiladas pelos trabalhadores por um motivo bem simples: a vida não melhorava apesar dos avanços tecnológicos que propiciavam aumentos cada vez maiores na produção de riquezas. Não era difícil, portanto, mesmo para pessoas rudes, perceber que havia algo de muito errado num sistema que empobrecia exatamente os que mais trabalhavam. A contradição do sistema, porém, saiu de foco com as guerras mundiais que, em essência, foram disputas de hegemonia entre potências imperialistas tradicionais (Inglaterra e França) com potências emergentes (Alemanha, Itália e Japão).  Guerras que, ironicamente, acabaram fortalecendo as duas potências emergentes que queriam ficar de fora da disputa: os EUA e a então URSS.  Guerras que alijaram a Europa do centro de um mundo que passou a se dividir em dois blocos rivais: O capitalista (também chamado “livre e democrático”) e o socialista (também chamado “não livre e não democrático”). 

É importante destacar que foi o próprio capitalismo que se proclamou “livre e democrático” e, ao mesmo tempo, colou o “não livre e não democrático” no bloco socialista a partir do argumento de que nele não haveria liberdade para se trabalhar e consumir. Que a então URSS não era exemplo de liberdade e de democracia a história comprova, visto que nela a tal Ditadura do Proletariado se transformou numa DITADURA SOBRE O PROLETARIADO, pois a burocratização e militarização do estado criou uma armadura que oprimiu a classe trabalhadora até mais do que no capitalismo e, exatamente por isso, ruiu como sistema no fim dos anos 1980. Com o fim da então URSS era de se esperar, a partir da propaganda capitalista de superioridade, que a integração dos mercados mundiais aliado a um avanço ainda mais avassalador da capacidade produtiva fomentasse a construção de um mundo de paz e prosperidade em escala planetária, mas o que se vê é exatamente o oposto.

Se não há mais a ameaça comunista de quem é a culpa das crises do capitalismo? Sem resposta, o próprio sistema criou uma para justificar a infelicidade atual, ou seja, patrocinou o terrorismo jihadista que fez da suposta morte de Osama Bin Laden uma espécie de ritual exorcista do mundo. É a aquela história, se o mal não existe, é preciso criar um para justificar o infortúnio. O tempo passa e não apenas os “demônios” continuam soltos como vai ficando mais irreal a tese de que há liberdade para se trabalhar e consumir no capitalismo, pois o desemprego é crescente e os níveis de renda vão diminuindo. Além disso, vemos os setores financeiro e produtivo cada vez mais atrelados à estrutura de estados nacionais sugados e endividados por estes, forçando-os, inclusive, a reduzir despesas com os trabalhadores em áreas básicas como saúde e educação (ver aqui). Esse quadro, portanto, pressiona pela rediscussão e debate das teses socialistas, ou seja, do velho fantasma das elites. Como não possuem argumentos para dialogar racional e civilizadamente com esse fantasma, mais uma vez pedem socorro a seu velho, mas não superado, serviçal estridente, raivoso e eficazmente midiático: O FASCISMO.



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