Moro, Bolsonaro e o tiro pela culatra


Por Fernando Lobato_Historiador

A tentativa de Bolsonaro de conseguir um aperto de mão ou, pelo menos, um breve e amigável bate-papo com Sérgio Moro no aeroporto de Brasília (ver aqui) é o exemplo cabal do poder de influência das mídias na formação de opiniões e conceitos sobre personalidades. Dias atrás, setores de esquerda ainda identificados com o petismo despejaram uma saraivada de críticas contra o historiador Leandro Karnal porque este se deixou fotografar alegremente ao lado de Sérgio Moro num restaurante de Curitiba (ver aqui). Para esses, que ainda acreditam que Lula é o messias que salvará o país da crise, Moro seria uma espécie de anticristo ou encarnação de satã porque sua única missão aqui na terra seria impedir Lula de retornar ao Planalto. Não se sabe por que cargas dágua se convenceram de que Karnal é um intelectual de esquerda a serviço do Lulopetismo e, portanto, impedido de se deixar fotografar junto de qualquer coisa que lembre a direita. Karnal, portanto, foi condenado ao inferno, apesar do fato de Lula, não muito tempo atrás, ter cometidos pecados bem piores na companhia de muitos que o petismo hoje sataniza aos quatro ventos.

Quase da mesma forma que o petismo em relação a Karnal, setores da direita, até pela quase completa ausência de ícones nesse campo, transformaram Sérgio Moro num ser para culto e veneração porque em suas mãos estaria a salvação do país. Desde então, postulantes ao Planalto da direita tentam a todo custo se “incensar” na aura de “santidade” que Moro ostenta diante de significativa parcela do eleitorado brasileiro. O mais bem sucedido até aqui foi Aécio Neves que, num evento da Revista Isto É, foi fotografado conversando com nosso “paladino” como se fossem amigos de longa data (ver aqui). O problema é que a “aura de santidade” que Aécio gostaria de usar já foi para o espaço com as delações da Odebrecht (ver aqui). Outro que também tenta posar de santo ao lado de Moro é Alckmin, governador de São Paulo, mas o problema é que ele já tem esse título, mas nas planilhas de propina da Odebrecht. “Santo”, portanto, ele já é, mas do pau-oco (ver aqui).

Como seus rivais no campo da direita não conseguiram se incensar na “aura de santidade” de Moro, Bolsonaro foi a luta com essa missão, mas o encontro forjado por seus militantes no aeroporto de Brasília em vez de acertar o alvo acabou sendo um tiro pela culatra. Irônico também é o fato de Bolsonaro ser ex-militar, ou seja, alguém experiente no manejo de armas e, sobretudo, táticas de abordagem, mas Moro, pelo menos dessa vez, ignorou a continência a ele desferida por seu pretendente a apadrinhado político. É a segunda vez que a direita se joga desesperadamente para um membro do Judiciário com o fim de ser abraçada por ele. O primeiro foi Joaquim Barbosa que, pelas condenações que fez do impeachment de Dilma (ver aqui), já foi completamente defenestrado do papel de salvador. Nada sugere, pelo menos até o momento, que Moro vá apadrinhar alguém na eleição presidencial de 2018, mas a direita vai pressioná-lo para isso, pois cresce a ameaça do retorno daquele que ela encara como o verdadeiro anticristo ou encarnação de satã, pelo menos até o desfecho das eleições 2018, isso, é claro, se houver mesmo eleição (ver aqui).

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