O pato amarelo, os patos verde-amarelos e as reformas temerárias



Por Fernando Lobato_Historiador

Em “A Democracia como Afirmação do Socialismo” (ver aqui) defendo que a democracia ainda é uma realidade embrionária apesar dos 228 anos desde que os gritos de “liberdade, igualdade e fraternidade” ecoaram na França como afirmação dos “direitos do homem e do cidadão”. Foi nesse momento que se criou a ilusão de que tais direitos seriam para todos e, na euforia revolucionária, poucos perceberam que os “homens e cidadãos” que as leis liberais buscavam proteger estavam restritos à nova elite dirigente. Era para a alta burguesia, portanto, que o Art. 2° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 (ver aqui) previa liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão como parte dos direitos naturais e imprescritíveis.

A liberdade, disse o Art. 4° da mesma declaração, “consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo”, mas é importante destacar que os trabalhadores não estavam incluídos nessa categoria e, portanto, podiam ser duramente explorados, pois não tinham a quem pedir socorro, visto que o novo Leviatã era dócil e servil ao grande capital, ou melhor, à mola mestra de um mundo crescentemente individualista, desumano e vergonhosamente desigual. A tal liberdade liberal, portanto, não se afirmou com o foco na espécie humana, mas no capital, pois é ele que o sistema busca manter livre e fora de qualquer tipo de controle. Eis porque a democracia também não é um valor liberal, visto que nem mesmo a coletividade tem o direito de restringir o livre ir e vir dos capitais, algo completamente profano na liturgia dos devotos do “Deus Mercado”.

Sempre que a democracia tenta se afirmar, cresce a ação dos paladinos liberais erguendo barricadas contra a “opressão”. Opressor e ditatorial, segundo eles, é todo e qualquer regime que tenta impor restrições à liberdade do capital e uma das barricadas que costumam erguer é a corrupção do sistema partidário, pois para eles partidos não devem existir para propor projetos autônomos da sociedade, mas para mantê-la servil e refém dos ditames do capital.  Quando atentamos para o discurso do governo Temer, por exemplo, é comum ouvirmos que as reformas visam conquistar a confiança dos investidores (ver aqui), ainda que tal confiança signifique a desconfiança quase completa da população. Não é para o bem estar geral da nação, portanto, que as reformas precisam ser feitas com urgência, mas para o bem estar dos capitais que financiaram o golpe, tão bem expressos no pato amarelo da FIESP.

Quem tem de pagar o pato, portanto, são os que trabalham e labutam e não as empresas e os capitais que os exploram e esse é o sentido das reformas de Temer. O problema dos expedientes neoliberais, porém, é que são dependentes de pervertidos sem escrúpulos para os levar adiante e, embora não encontrem muita dificuldade para recrutá-los, estes nem sempre agem com a “eficiência” esperada.  Se Temer não conseguir entregar as “encomendas” antes do fim de 2018, o próprio capital vai buscar alternativas a ele. A questão que fica no ar é: Que bomba pior que esse governo de corruptos vão buscar lançar sobre nós? Parlamentarismo? Golpe Militar? A única coisa certa é que esse tal neoliberalismo quer que paguemos pela crise que ele mesmo criou e por isso nos acusa de vagabundos, preguiçosos e coisas do tipo. Os discursos e as práticas são bem manjados, mas já que funcionaram em lugares como Chile (ver aqui), Grécia (ver aqui) e outros, nem sequer se preocupam com a mudança do repertório.

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