Por Fernando Lobato_Historiador
A
concretização da denúncia de Janot contra Temer é mais um round da luta pelo
resgate daquela que foi seqüestrada há mais de um ano em nome da eficiência
administrativa, da moralidade pública e do combate à corrupção que PMDB/PSDB prometeram
implantar no país depois do afastamento de Dilma e do PT do plano mais alto
(planalto) da República. Falo, portanto, da DEMOCRACIA, ou seja, daquela que
dizem ser a expressão da soberania do povo na condução da invenção humana que é
considerada um dos esteios da passagem da barbárie para a “civilização”: O
ESTADO OU GOVERNO. Passados mais de 6.000 anos desde sua invenção nas primeiras
cidades-estados do mundo antigo, vemos a mesma, pelo menos no Brasil atual,
assumindo despudoramente o processamento de um caminho descaradamente inverso,
ou seja, buscando instituir a barbárie por cima dos escombros da civilidade que
a Constituição de 1988, com muitas dificuldades, começava a erguer entre nós.
Civilidade que permitiu, pelo menos na lei escrita, outro grande fundamento da
tal civilização, abolir um dos resquícios da escravidão legal que ainda persistia
entre nós, ou seja, o trabalho doméstico sem as garantias legais que os
trabalhadores urbanos passaram a ter desde os anos 40. Civilidade que se
pretende demolir com as tais reformas temerárias (Trabalhista e
Previdenciária). No Brasil Colonial, o ataque à civilidade era feito pelos
capatazes dos senhores da casa grande, mas hoje é feito por
Deputados, Senadores e Magistrados “preocupados” com o desemprego e com uma
suposta retomada do crescimento econômico do país.
A “civilização” brasileira, portanto, nunca se
pautou pela civilidade, pois sempre foi fascinada pela barbárie, tão bem exemplificada
pelos navios negreiros que impulsionaram nossa economia colonial e que inspiraram
o vigor poético de Castro Alves (ver aqui) e o político de tantos brasileiros
que lutaram e lutam pelo avanço da civilidade e justiça social entre nós. Barbaridade
que se mostra na cara de pau e cinismo sem limites de um presidente que, mesmo
pego com a boca na botija, chama de ilação as provas contundentes e cabais
que a PGR arrolou contra ele em sua denúncia (ver aqui). Estamos, portanto,
reféns de bárbaros que seqüestraram nossa democracia para pilhar e extorquir recursos
públicos, bem como os direitos dos que trabalham e geram as riquezas que os
fazem viver como marajás num país marcado pela pobreza e miséria. Os bárbaros
são hoje maioria na Câmara dos Deputados e estão dispostos a manter nossa
democracia no cativeiro, bem como evitar que a civilidade os alcance, ou seja, a
punibilidade prevista para quem transgride as leis. Bárbaros barbarizam e,
portanto, assombram ou coagem a civilidade praticando barbaridades de todo
tipo. Não será fácil resgatar nossa democracia do cativeiro em que foi metida,
pois os bárbaros estão dispostos a tudo para mantê-la onde está pois é isso que possibilita a manutenção do seu estilo de
vida e, por conseqüência, de sua própria
sobrevivência enquanto ser bárbaro. O aspecto positivo de toda essa barbaridade
é que os bárbaros agora começam a ser visto como tais e o povo começa a
perceber que precisa se livrar deles se quiser resgatar nossa democracia do
cativeiro e, através disso, impedir que seja escravizado novamente.
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