Os freios, o contrapeso e a denúncia de Janot



Os generais de Temer estão prontos pra guerra. E nós?

Por Fernando Lobato_Historiador

Temer, constitucionalista e bom conhecedor da História, lamenta não ser Luís XIV na França pré-revolucionária para pronunciar a frase “O ESTADO SOU EU” e, de forma simples e direta, se livrar dos incômodos da delação da JBS. O tempo, porém, é outro e, pelo menos no papel, está posto que todos são iguais perante a lei e a denúncia de Janot não demora para chegar na Câmara, onde Temer espera que Rodrigo Maia, junto com muitos outros enrolados na Lava-jato, declare que nosso presidente temerário não pode e não deve ser processado porque o estado, no Brasil, pertence aos grupos econômicos que financiam a maioria dos ocupantes do Executivo e do Legislativo e que isso aqui nunca foi e jamais será uma democracia e que nem PGR nem STF podem se meter a besta com os dois poderes que, em conluio, tomaram a republiqueta brasilis de assalto numa operação à luz do dia.

 Nem Maia nem seus parceiros representantes do poder econômico, obviamente, dirão tais coisas usando as palavras acima, mas dirão a mesma coisa com outras muito bem calculadas e articuladas de modo a parecer que a blindagem de Temer e deles próprios atende rigorosamente aos interesses de um país que precisa urgentemente fazer as REFORMAS TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA para gerar empregos e sair de vez da crise.  Para Maia e seus parceiros, as malas entupidas de dinheiro que Loures e o primo de Aécio carregavam não possuem a menor importância diante da grave crise, que, segundo eles, não é fruto do apodrecimento do sistema que nos governa e sim de gestão e de natureza meramente econômica. Para "a felicidade geral da nação", insinuam eles que devemos esquecer o caso das malas filmadas pela PF, bem como do apurado até aqui pela Lava-jato para voltarmos a nos concentrar no dever de trabalhar para a volta da nação aos trilhos do “progresso” excludente e desigual que marcou e ainda marca a nossa história.

         Os freios que Janot e a PGR tentam colocar na prática de crimes que, de tão corriqueiros, foram naturalizados por nossa classe política corrupta, tendem a ser completamente anulados pelos mesmos delinqüentes que os praticam há muito tempo de modo que a tese de que o estado não é mais absoluto ou ditatorial cai amplamente por terra. O peso de um estado capturado por delinqüentes sobre uma população indefesa, atônita e inerte precisa ser revertido com um contrapeso adequado e isso não significa apelar para as Forças Armadas ou para o Chapolin Colorado, mas para a consciência cidadã de todos os brasileiros e brasileiras que tiveram olhos e ouvidos para ver e ouvir tudo o que nos foi revelado e que, caso a denúncia de Janot seja mesmo arquivada, possam reagir de forma firme, organizada e consciente contra os retrocessos que vão tentar nos impor a todo custo. A guerra da PGR contra o crime organizado que nos governa é também nossa e não tem cunho nem de direita nem de esquerda, mas da maioria lesada contra uma minoria que sempre nos lesou, seja com o desvio descarado dos recursos públicos em benefício próprio seja com promessas vãs que nunca são efetivamente cumpridas. Ou o gigante acorda de vez ou será sedado com uma dose cavalar de roupinol, não se podendo sequer prever quando abrirá os olhos para constatar que está nu e depenado.

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