Fernando Lobato_Historiador
Em tempo de guerra
ideológica feroz como o nosso, é comum observamos o uso de termos que nada tem
haver com seu sentido original. Num vídeo do You Tube, por exemplo, Lula é taxado
de COMUNISTA e o Governo Temer é chamado, sem a menor cerimônia, de Socialista,
Marxista e Fascista – é isso mesmo que você leu!– tudo junto e misturado como
salada de fruta! (ver aqui). Apesar de despejar um monte de asneiras e
bobagens, o indivíduo que o narra fala como se devêssemos levá-lo a sério.
Comunismo, não custa nada esclarecer, é tão somente o modelo de organização da
infância da humanidade, ou seja, do período que chamamos de Idade da Pedra ou
Pré-História. Trata-se, portanto, de uma forma de organização em que inexistia
estado ou governo e, portanto, cobrança de impostos, bem como a apropriação privada
das terras, das colheitas, dos rebanhos e até do artesanato, visto que tudo
pertencia à comunidade que os produzia num regime de divisão sexual do trabalho
(ver aqui). Comunismo como organização humana, concluindo, já existia centenas
de milhares de anos antes de Marx e Engels escreverem o Manifesto do Partido
Comunista (1848) e continua existindo até hoje, por exemplo, nas comunidades
indígenas que preservam o seu estilo de vida tradicional.
Quando o termo
COMUNISMO é usado para falar dos regimes da China e da Coréia do Norte, por
exemplo, faz-se uso inadequado do mesmo, visto que, na verdade, está se falando
do que Marx chamou de DITADURA DO PROLETARIADO, ou seja, regimes que, pelo
menos em sua teoria, deveriam estar a serviço da população trabalhadora, ou
seja, da esmagadora maioria da população. Nas teses de Marx, a DITADURA DO
PROLETARIADO não seria ainda o estágio ideal politicamente, mas uma fase de
transição necessária para se fazer uma justa distribuição da riqueza gerada coletivamente,
ou seja, uma fase de combate radical à pobreza e às desigualdades sociais, ou
ainda, combate aos privilégios de classe, à corrupção e ao uso da máquina
estatal em favor de uma minoria, ou seja, combate ao que temos instalado no
Brasil há mais de 500 anos. É importante ainda destacar que, quando Marx usa o termo DITADURA DO PROLETARIADO, ele não está defendendo regimes fortemente autoritários como os que se instalaram depois de sua morte na China, na Coréia do Norte ou na ex-URSS, visto que sua preocupação era com a definição de regimes onde os governantes trabalhassem em favor da maioria, pois considerava que, nos regimes de economia capitalista, os governos sempre trabalham em favor da minoria.
A DITADURA
DO PROLETARIADO é chamada por Marx de fase SOCIALISTA, ou seja, uma fase em que
o objetivo central é a SOCIALIZAÇÃO DA RIQUEZA, ou melhor, redução do poder
político e econômico dos mais ricos com o fim de favorecimento dos mais pobres. Comunismo e Socialismo, portanto, são
doutrinas diferentes, apesar da propaganda dos reacionários insistir que se trata
da mesma porcaria. Um socialista crê na importância vital da DEMOCRACIA como meio de
controle do estado pela maioria que trabalha e paga os impostos, pois vê nisso
um mecanismo fundamental contra a opressão do capital e contra a miséria e as injustiças sociais. Um
socialista, portanto, pode descrer e se opor à doutrina comunista. Um
comunista, por sua vez, se for fiel à doutrina Marxista, pode aceitar isso também, mas achará isso sempre insuficiente, pois
entende que essa fase também precisa ser superada, visto que advoga uma sociedade SEM ESTADO e SEM CLASSES SOCIAIS diferenciadas entre si, quer politicamente quer economicamente, ou seja, semelhante àquelas da infância da humanidade ou, dito de outra forma, que
se AUTOGOVERNE. Focinho de porco e tomada, portanto, não são a mesma coisa e
fascismo, então, é algo muito diferente e distante de comunismo ou socialismo, mas disso falarei em outra
oportunidade.
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