Por Fernando Lobato_Historiador
Japoneses e chineses, juntos e
misturados dentro de um ônibus, nos dão a impressão de que não há diferenças
entre eles. Aparências, porém, costumam ser muito enganosas. Faço essa observação para destacar as
diferenças entre duas propostas políticas que somente aparentemente são iguais,
visto que são bem distintas entre si: a SOCIAL-DEMOCRACIA e o SOCIALISMO
DEMOCRÁTICO. As duas nasceram de interpretações ou revisões do SOCIALISMO
CIENTÍFICO proposto por Marx, sendo que a 1ª, conforme já expus (ver aqui), tornou-se uma doutrina de CENTRO, ou seja, que busca uma humanização ou
regulação da selvageria capitalista – que tem por natureza a priorização máxima
do lucro em desfavor dos seres humanos. Seu fim, portanto, não é um
questionamento ou enfrentamento das injustiças do sistema capitalista, mas uma
mera pretensão de equilíbrio entre capital x trabalho com o fim de obter melhores
condições de vida e trabalho, ignorando ou fazendo vista grossa, porém, para o principal efeito colateral do sistema: a concentração de riqueza nas mãos de uma
minoria cada vez mais reduzida, rica e poderosa.
Eis o que explica o fracasso da
SOCIAL-DEMOCRACIA como projeto de estabilização da sociedade capitalista, visto
que não há como consolidar a DEMOCRACIA dentro de conjunturas que favorecem a
concentração exagerada de riqueza e que permitem que esta manipule ou subverta
completamente o SISTEMA ELEITORAL, visto que os partidos, com raríssimas
exceções, se transformam em comitês a serviço da alta burguesia, ou melhor, dos
tubarões que controlam o MERCADO. Karl Marx, por sinal, previu esse fato há
mais de dois séculos sem apelar para dons de mediunidade ou para bola de
cristal, até porque era completamente cético quanto a isso. Seu acerto decorreu
unicamente de sua habilidade para ler, interpretar e relacionar dinâmicas
econômicas e políticas (ver aqui e aqui). O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO, diferente
da SOCIAL-DEMOCRACIA, não quer apenas garantir boas condições de vida e
trabalho para todos, mas, sobretudo, a lubrificação contínua das engrenagens
DEMOCRÁTICAS, visto que sem o crescente aperfeiçoamento destas, nenhuma
conquista momentânea tem segurança jurídica para se manter quando vier a
próxima crise do capitalismo, tal como hoje ocorre no Brasil e no mundo.
Quando o sistema capitalista
entra em crise, costuma se refazer jogando os prejuízos nas costas dos
contribuintes trabalhadores, que somente depois de muito tempo se refazem do
tratamento de choque que lhes é imposto de cima pra baixo como nas mais cruéis
ditaduras. Foi assim na Crise de 1929 e tem sido assim na crise atual (ver aqui
e aqui). A Ditadura do Capital, que atende pelo nome de “DEMOCRACIA LIBERAL”, é
tremendamente enganosa e camaleônica porque sabe montar com maestria uma série
de esquemas que ocultam sua face ditatorial e, ao mesmo tempo, criam a ilusão
de que todos são livres e que, no dia da eleição, o voto de cada um tem o mesmo
valor.
Sábio e profeta foi Jean Jacques Rousseau (1712-1778),
quando disse que “uma sociedade só é democrática quando ninguém é rico a ponto
de comprar alguém e ninguém é pobre a ponto de ter que se vender para alguém”.
O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO, portanto, é uma doutrina política do campo da ESQUERDA, ou seja, do campo que entende que é preciso
modificar o sistema para que as conquistas dos trabalhadores, ou seja, da
grande maioria da população, possam ser garantidas efetivamente. Não é,
portanto, uma acomodação bem intencionada ao capitalismo como é o caso da
SOCIAL-DEMOCRACIA. É crítico, porém, de uma interpretação ortodoxa ou dogmática
das teses marxistas, pois entende que os interesses da classe trabalhadora não
se afirmam sem DEMOCRACIA ampla, geral e irrestrita. A Constituição de 1988 tem
nuances da proposta socialista democrática, mas, num Brasil crescentemente
neoliberal desde 1989, tem sido “rasgada” em nome dos interesses da DITADURA DO
CAPITAL. O governo Temer, por sinal, está sendo o mais letal nesse sentido.
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