Por Fernando Lobato_Historiador
A Operação
Lava-jato é, sem dúvida alguma, um marco importantíssimo na História do Brasil
em face da popularização e intenso debate gerado sobre o fenômeno da
corrupção. Bem diferente da pregação fascista de setores da direita, a
corrupção não é algo relacionado com uma suposta ideologia de esquerda do PT quando
estava no poder, mas sim parte inseparável do modus operandi do estado
brasileiro desde o período colonial. A corrupção, portanto, é parte da lógica
de subordinação do interesse público ao capital privado que nos governa desde
que D. João III criou o sistema de Capitanias Hereditárias em 1534 (ver aqui).
A noção de separação entre o público e o privado, portanto, desde essa época, nunca
foi levada em consideração pelas elites governantes, visto que o estado sempre
foi tratado como extensão de seus negócios privados e isso foi algo que se
afirmou até na cultura política da massa, que exige algo em troca na hora do
voto porque sabe que a estrutura pública não lhe pertence e acredita que alguns trocados ou favores é o
máximo que dela pode obter.
É fato também
que a Lava-jato, em sua primeira fase e, sobretudo, na seção Curitiba, acabou
sendo instrumentalizada como arma política para o enfraquecimento de Dilma, do PT e, principalmente, de Lula. Não sem certa
razão, ele a apelidou de República de Curitiba com o fim de relacioná-la com a
República do Galeão de 1954 (ver aqui), montada para afastar Vargas da
presidência e travar o projeto nacionalista que este tentava levar adiante com sua
volta ao poder nos braços do povo. As eleições de 1950 e 2014, portanto, foram
momentos em que a vontade popular no Brasil colidiu com os interesses
norte-americanos no país a ponto de dar
vazão a ações golpistas que, em 1954, acabaram frustradas por duas vezes seguidas –
com a vitória de Juscelino nas urnas e com o CONTRA-GOLPE do Marechal Lott (ver aqui e aqui).
Na segunda fase da Lava-jato, a atual e
possivelmente a derradeira, cujo centro foi Brasília e Janot, depois do impeachment
de Dilma e da morte suspeita do ministro Teori, a operação teve um enfoque mais verdadeiro da
corrupção, ou seja, como um problema do modus operandi do sistema político
brasileiro, ou seja, como algo sistêmico que
envolve todos os grandes partidos, sobretudo os que hoje são o esteio do
governo Temer: O PMDB e o PSDB.
A próxima
semana, a última de Janot à frente da PGR, promete reforçar a noção sistêmica
desse grave problema nacional, visto que, além dos desdobramentos da delação de
Palocci, que fulmina ainda mais o PT e liquida com as chances de Lula em 2018, teremos
as derradeiras flechadas de Janot e a mais aguardada é a 2ª contra Temer, que tem tudo pra ser
devastadora tanto em relação ao governo quanto ao PMDB. O PSDB, nesse momento, fica fora do foco
central, mas Aécio e toda a cúpula tucana, como já ficou claro, estão também envolvidos
até o pescoço nos ilícitos. Vão, é claro, como ficou evidente no seu último
programa eleitoral, jurar arrependimento e início de novas práticas, mas dificilmente
conseguirão se viabilizar para 2018, ainda que Dória seja o candidato.
Espera-se, pelo menos, que mídia pró-Temer não ocupe quase toda a sua programação falando da delação de Palocci com o fim de criar uma “CORTINA DE FUMAÇA” para invisibilizar a denúncia de Janot e as novidades que virão com o levantamento do sigilo da delação de Lúcio Funaro. É fato que o FORA TEMER é quase uma unanimidade nacional, mas essa cortina de fumaça reforçaria ainda mais a complacência da Câmara dos Deputados com seus delitos, tudo em nome da “estabilidade governamental e de uma suposta recuperação da economia”. A CRETINICE e a CANALHICE, portanto, buscam sempre formas novas de auto-justificar-se. Tal fato, porém, comprova o que sempre afirmei: que o IMPEACHMENT de Dilma não teve nenhuma relação com a corrupção praticada pelo PT e sim com a imposição de uma agenda de reformas exigidas pelos agentes do mercado que atuam através dos grandes partidos tradicionais (PMDB, PSDB, DEM, PSD, PR e outros). A DEMOCRACIA, entre nós, portanto, tem sido uma grande farsa e urge torná-la real para que deixemos de ser reféns dos interesses das grandes corporações privadas.
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