EUA, Coréia do Norte e a guerra como instrumento de redenção

Por Fernando Lobato_Historiador

Os 43 anos anteriores à 1ª Guerra Mundial (1914-1918) foram chamados de “Paz Armada”, ou seja, período de vigorosa corrida armamentista com o fim de impressionar e desestimular os instintos imperialistas dos inimigos (ver aqui). Tratou-se, portanto, primeiramente, de uma guerra de intimidação com o fim de desaconselhar a opção pela guerra efetiva. A estratégia, porém, se esgotou em 1914 e o mundo se engalfinhou numa guerra insana cujo saldo foi um colossal prejuízo humano e material  para vencedores e perdedores, exceto para os EUA que, neutros até 1917, lucraram e enriqueceram com a insanidade belicista das potências europeias (ver aqui).

Que uma 3ª Guerra Mundial seria uma insanidade muitas vezes pior que as duas primeiras ninguém duvida, pois o poder destrutivo atual é imensamente superior ao do passado e, por isso, esperava-se que os líderes mundiais do Século XXI fossem bem mais sensatos que os do XX, mas a História, para o bem e para o mal, costuma nos surpreender. Em vez de sensatez, ganha força a loucura, sendo Donald Trump o exemplo mais notório. Desde sua campanha à Casa Branca, personificou um “cachorro louco”, ou seja, que “ladra ferozmente” avisando que irá “dilacerar suas vítimas com os próprios dentes”. Taxando Obama de frouxo, prometeu duro tratamento aos casos mais espinhentos da diplomacia norte-americana: Venezuela, Irã e, sobretudo, Coréia do Norte.

O “cachorro louco” parecia uma criação dos marqueteiros de Trump para atrair o enorme eleitorado insatisfeito com a decadência norte-americana, sobretudo,  os saudosos do tempo em que o “sonho americano” era real e Nova York era o “sol” do sistema capitalista planetário. A queda da URSS em 1991 sinalizava uma firme consolidação dessa realidade, mas o mundo assistiu um crescimento chinês cada vez mais ameaçador, um Japão e uma Coréia do Sul supercompetitivos, uma Europa unida que criou um sério concorrente ao dólar – O Euro - e, o pior de tudo, um ressurgir altivo do imperialismo russo sob o comando de Putin.   A posição firme e segura de centro mundial não se confirmou e, para piorar, os EUA começaram a perceber que caminhavam na direção da periferia. O que fazer para reverter esse quadro assustador para o excêntrico nacionalismo norte-americano? A resposta parece cada vez mais óbvia: a GUERRA.

Vai ficando claro que o “cachorro louco” não é apenas marketing, mas um instrumento para provocar e desequilibrar os nervos inimigos para que, vítimas do impulso, tomem a iniciativa do primeiro tiro.  A águia, portanto, deseja ansiosamente atacar, mas não quer ser acusada do início da insanidade.  Faz uso do “cachorro louco” na Assembléia da ONU (ver aqui), mas quer manter a aura de mocinha disposta a defender o mundo de perigos reais ou ficcionais – caso de Bin Laden e das armas químicas do Saddam (ver aqui).  A estratégia parece ter funcionado, visto que Irã e Coréia do Norte já reagiram conforme o esperado (ver aqui e aqui). O suspense e drama que se impõe aos lúcidos e sensatos parece já não ser se haverá ou não um conflito de grandes proporções, mas o tamanho da encrenca, pois a síndrome do “cachorro louco” vai espalhando raiva e rancor mundo afora e a volta dos “nazistas” ao parlamento alemão é apenas mais um caso preocupante (ver aqui).