O nepotismo pornográfico, o carnaval do protesto e a intervenção no Rio

                                                     Por Fernando Lobato_Historiador


        O nepotismo, prática herdada do período colonial, caracterizada pelo uso da estrutura dita pública para garantir a boa vida de filhotes sem disposição para o trabalho que herdam a falta de escrúpulos dos pais, está mais vivo do que nunca no regime dos temerários. Trata-se de um nepotismo em sintonia com a libertinagem neoliberal que oprime e impõe todo tipo de imoralidade ao povo brasileiro, tais como o congelamento dos gastos sociais do estado (PEC do Teto), uma reforma trabalhista que mais parece a revogação da Lei Áurea de 13 de maio 1888 e uma Reforma da Previdência, ainda não concretizada, cujo fim é a privatização do sistema de aposentadoria para atender ao apetite de um capitalismo financeiro que tudo devora de forma frenética e incontrolável.  É um nepotismo, portanto, que reflete o descaramento e completa desinibição de uma elite que não mede esforços para impor, a qualquer custo, os seus interesses. Elite herdeira e descendente dos escravistas que fundaram nosso país e que acha normal  tratar o nosso 3° estado – o povo -  na base do chicote.
          Nepotismo pornográfico que escancara a promiscuidade da relação entre os ocupantes da alta cúpula do estado com os chefões do poder econômico. Cristiane, filha de Roberto Jefferson, fiel escudeiro de Collor na luta contra o impeachment de 1991, “anão” do orçamento de 1993, pivô do mensalão de 2005 e hoje esteio do governo temerário (ver aqui), é a cara do Brasil atual e, não por acaso, chama-se Cristiane Brasil. Para o nepotismo pornográfico da atualidade, pouco importa fazer tudo à luz do dia afrontando o pudor público. Colocar como ministra do trabalho uma contumaz violadora dos direitos trabalhistas é algo perfeitamente aceitável, não cabendo ao 3° estado reclamar de nada, visto que, dizem, a pornografia está rigorosamente dentro da “legalidade”. Nesse caso, felizmente, nossa justiça, que costuma ser dura com quem é do povo e delicadíssima com quem é da elite tradicional, resolveu por um biombo na frente da indecência de Temer com Roberto Jefferson.  Tal ação em favor do pudor público, porém, não ocorreu em relação ao filho do deputado que tatuou Temer não apenas no braço, mas, segundo ele  próprio, também no coração. Falo aqui de um dos mais ardorosos defensores do vampirão retratado pela Paraíso da Tuiuti no Carnaval do Rio de Janeiro: Wladimir Costa.
        A recompensa por tanto “amor” – explícito e ardente – além das verbas liberadas do orçamento impositivo (ver aqui) – foi a nomeação do filhote de Wladimir para o cargo de Delegado Nacional da Secretaria de Desenvolvimento Agrário no Pará. Apesar de ser um mero estudante universitário de 22 anos, Temer e Wladimir estão convictos de que o filhote nomeado será capaz de administrar honestamente os R$ 100 milhões de verba pública que estão sob sua responsabilidade desde 26 de janeiro (ver aqui).  Como se vê, Wladimir Costa e Roberto Jefferson comprovam que a função de advogado do diabo é altamente lucrativa e vantajosa no Brasil. Temer, quando comandou o golpe, fez isso pensando nas vantagens que está obtendo e que ainda obterá depois do fim de seu mandato em 31 de dezembro, isso se não urdirem outro golpe até lá.  A pornografia tornou-se tão explícita que encabulou até a festa que, por tradição, costuma exaltar a nudez. Em vez de retratar o fantasioso e o fantástico, as grandes vencedoras do carnaval do Rio em 2018 preferiram se pautar pela crítica social e política. Quando a elite percebeu que essa crítica carnavalesca tem potencial para ganhar as ruas, eis que Temer, de repente, decretou a intervenção federal na segurança pública do Rio. Diz que é para proteger o 3°estado – o povo -  dos bandidos, mas o fato é que o próprio povo desconfia que os bandidos mais perigosos e nocivos ao bem comum não estão nas ruas onde costuma circular no dia a dia.

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