Por Fernando Lobato_Historiador
As
Eleições2018, apesar do imbróglio em que se encontra por conta da suspeição em
torno do Judiciário, que deixou o tradicional passo de tartaruga para, em tempo
recorde, condenar Lula em 1ª e 2ª instâncias (ver aqui) e, com
isso, dar juridicidade a sua retirada da disputa, tem como novidade a candidatura
presidencial de Guilherme Boulos,
coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Filho da
alta classe média paulistana, Boulos, aos 19 anos, abandonou a vida de conforto
em que vivia para comprar a briga dos que perambulam em busca de um teto para
morar na capital do capitalismo nacional (São Paulo) – ver aqui.
Tinha tudo para
ser um típico burguês de classe média alta, ou seja, apegado aos carrões, à
noitada em boates caras e, como é comum, um eleitor fiel dos tucanos do PSDB
(FHC, José Serra, Alckmin). Poderia ter seguido uma carreira de reputação como
a do pai, Marcos Boulos, um conceituado médico infectologista, ou, como também
é comum no seu meio social, a de advogado. Nada disso, Guilherme Boulos
preferiu a profissão de livre pensador ao graduar-se em Filosofia pela USP. E
foi a valorização do pensamento livre e
crítico que o levou a insurgir-se contra as injustiças do modelo social em que
vivemos.
No polo oposto
ao histórico de outros presidenciáveis em 2018, Henrique Meirelles e João Amoêdo
são os melhores exemplos (ver postagens abaixo), Boulos não dedicou sua vida ao
acúmulo de fortuna no mercado financeiro.
Seu talento, coragem e inteligência foi posto a serviço de quem tem pouca ou
nenhuma instrução, mas muitas carências e debilidades sociais por conta do
modelo excludente que o capitalismo reproduz e que se mostra, de forma mais
explícita e marcante, em São Paulo. Boulos, em vez do conforto de um
apartamento de luxo, passou a maior parte dos seus 36 anos de idade em
acampamentos precários que são fruto de ocupações que os sem teto que lidera
fazem em prédios ou terrenos desocupados e a serviço da especulação imobiliária.
Imóveis que não cumprem o que a lei maior do país, a Constituição Federal,
exige no inciso XXIII do Art. 5º: “A propriedade atenderá a sua função
social”.
Não procede,
portanto, a acusação que os direitistas e reacionários fazem a Boulos, ou seja,
de que é um subversivo, um terrorista e um invasor do patrimônio alheio. Boulos
e os membros do MTST não invadem propriedades ocupadas e que cumprem o que diz
a lei, mas sim aquelas que burlam o que lei estabelece e a ocupação por parte
do MTST, nesses casos, faz com que a propriedade cumpra a função social que a
lei determina. Boulos, portanto, não é, como a imprensa reacionária
propagandeia, um fora da lei, mas sim um militante da lei. É alguém, portanto,
que merece toda credibilidade e respeito ao se lançar candidato ao cargo maior
do país.
Boulos
representa, nas eleições 2018, exatamente aquilo que o povo brasileiro está em
busca, ou seja, candidatos comprometidos com o interesse público e não com o
próprio interesse. Quando ele diz que tem coragem de enfrentar as injustiças,
eu acredito e boto fé, porque sua vida é marcada pela coragem no enfrentamento
das bombas de gás lacrimogênio e das balas de uma polícia subordinada a uma
justiça que observa o direito à propriedade dos endinheirados, mas faz vista
grossa ao não cumprimento da finalidade social prevista na lei.
O PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)
está de parabéns por ter tido a ousadia de lançar Boulos como candidato. O
PSOL, a honestidade me faz revelar, é o partido ao qual me filiei por entender
que é um caso raro de autonomia em relação ao poder econômico corrupto e
corruptor que nos governa há tanto tempo. Poder econômico que urdiu, na calada
da noite, junto com deputados e senadores não menos corruptos, o golpe
parlamentar que colocou Temer no Planalto. Me filiei ao PSOL, portanto, por entender que, pelas dificuldades que tem para eleger candidatos que lutam contra
os poderosos, é merecedor do apoio da sociedade.
O PSOL me
surpreendeu ainda mais positivamente pela ousadia, ainda maior que a de Boulos,
ao escolher Sônia Guajajara como
vice. Sônia é uma líder indígena pra lá de qualificada – formada em Letras e
Enfermagem e Especialista em Educação Especial pela UFMA (ver aqui). E se não
bastasse isso, representa os brasileiros originários desse país que sempre foram excluídos de tudo.
Por tudo isso, o meu voto, em 2018, não
poderia deixar de ser no 50. Não apenas porque o voto no 50 representa a
juventude, a coragem e a ousadia dos candidatos e do partido que os lançou, o
PSOL, mas também porque é a única candidatura que assume compromissos com as
demandas que precisam urgentemente ser
enfrentadas para que este país comece a mudar de rumo e de cara (Reforma
Política, Reforma Tributária, Reforma Agrária, etc).
A
cara que o Brasil estampa para o mundo, principalmente no momento atual, é
aquela que Cazuza bradava numa música (ver aqui), ou seja, é um Brasil bem feio
de se olhar. E se não bastasse a feiúra que nos envergonha, ela ainda fica mais medonha com a
promoção que os reacionários fazem de uma figura bizarra como a de Bolsonaro. E, para piorar, começamos também a feder e a incomodar o mundo
(ver aqui). Esse fedor nos faz lembrar novamente de Cazuza, quando cantava que
a BURGUESIA FEDE (ver aqui). Boulos não quis ser fedorento e por isso, além do
meu voto, tem também o meu respeito e admiração. Se o povo brasileiro quer
demonstrar ousadia e coragem, não é votando nos defensores de fazendeiros e
grandes empresários que fará isso, mas sim em Boulos.
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