Por Fernando Lobato_Historiador
"Ai de vocês, mestres da
lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora,
mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão
cheios de hipocrisia e maldade. Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da
condenação ao inferno?”. Os trechos que abrem essa postagem estão
no capítulo 23 do Livro de Mateus (Novo Testamento) e são uma pequena amostra
de um dos momentos de maior revolta e indignação de Jesus contra o poder
religioso de sua época – o dos fariseus.
Autodeclarados guardiões
da moral religiosa deixada por Moisés, os fariseus entraram para a história
como aqueles que exigiram do poder político (Pôncio Pilatos) a morte de Jesus,
pois achavam que essa era a única forma de se livrar de um pregador jovem e
popular que não seguia a cartilha ditada por eles. No conflito entre Jesus e os
fariseus, a vitória, ainda que efêmera e de Pirro, foi deles, que manipularam a
eleição que resultou na libertação de Barrabás e na condenação à morte de
Jesus, que os chamava de guias-cegos porque exerciam influência e poder sobre o
povo, mas, em vez de guiá-los para o bem, os conduziam para a perdição.
Além de liderar o povo na
contramão da vontade de Deus, Jesus acusava os fariseus de ganância extrema, ou
seja, de valorizar mais o ouro do que o templo (Mateus 23:16) e de praticar
injustiças contra as viúvas e os pobres (Mateus 23:14 e 23:23). Farisaísmo, portanto, tem haver com prática
religiosa baseada em aparências, ou seja, em ritos esvaziados de uma efetiva
comunhão com o divino. Farisaísmo também tem haver com o uso da autoridade
religiosa com fins políticos escusos, ou seja, com o uso da influência
religiosa para a obtenção de poder secular e mundano.
O farisaísmo, na disputa presidencial
de 2018, é algo que salta aos olhos e revela a aguda degeneração de
princípios e valores de parte de denominações ditas evangélicas, envolvidas despudoradamente na
campanha de Bolsonaro. Falam em defesa da família apoiando um candidato que
está no 3º casamento e que tem um
histórico de vida promíscua no campo sexual (ver aqui e aqui). Se dizem
cristãos, mas apoiam quem prega ódio e violência e descaso contra mulheres, indígenas, negros
e homossexuais (ver aqui).
Cristianismo sempre teve
haver com o amor incondicional de Deus aos pecadores e este é o sentido maior
da crença na redenção proporcionada pelo sacrifício de Jesus na cruz. Cristo
diz que devemos perdoar o nosso irmão infrator 70 vezes 7 (Mateus 18:22), mas, no
catecismo farisaico dos líderes que apoiam Bolsonaro, está dito que bandido bom é bandido morto. Seria bom lembrá-los
que os fariseus de Jerusalém, muito provavelmente, disseram o mesmo quando
observavam com alegria a agonia de Jesus na cruz. Em troca de promessas já acertadas nos bastidores,
os fariseus de 2018 rasgam o evangelho de Cristo em troca de mais poder, fama e
influência (Será que tem concessão de TV e Rádio no pacote?).
A palavra de Cristo, dita há mais de 2 mil anos
aos fariseus de Jerusalém, vale também para os fariseus brasileiros de hoje: guias
cegos e hipócritas, como escaparão da condenação ao inferno?
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