O Evangelho de Mateus, os guias cegos e o farisaísmo evangélico nas eleições 2018


Por Fernando Lobato_Historiador

       "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade. Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno?”. Os trechos que abrem essa postagem estão no capítulo 23 do Livro de Mateus (Novo Testamento) e são uma pequena amostra de um dos momentos de maior revolta e indignação de Jesus contra o poder religioso de sua época – o dos fariseus.
      Autodeclarados guardiões da moral religiosa deixada por Moisés, os fariseus entraram para a história como aqueles que exigiram do poder político (Pôncio Pilatos) a morte de Jesus, pois achavam que essa era a única forma de se livrar de um pregador jovem e popular que não seguia a cartilha ditada por eles. No conflito entre Jesus e os fariseus, a vitória, ainda que efêmera e de Pirro, foi deles, que manipularam a eleição que resultou na libertação de Barrabás e na condenação à morte de Jesus, que os chamava de guias-cegos porque exerciam influência e poder sobre o povo, mas, em vez de guiá-los para o bem, os conduziam para a perdição.
Além de liderar o povo na contramão da vontade de Deus, Jesus acusava os fariseus de ganância extrema, ou seja, de valorizar mais o ouro do que o templo (Mateus 23:16) e de praticar injustiças contra as viúvas e os pobres (Mateus 23:14 e 23:23).  Farisaísmo, portanto, tem haver com prática religiosa baseada em aparências, ou seja, em ritos esvaziados de uma efetiva comunhão com o divino. Farisaísmo também tem haver com o uso da autoridade religiosa com fins políticos escusos, ou seja, com o uso da influência religiosa para a obtenção de poder secular e mundano.
O farisaísmo, na disputa presidencial de 2018, é algo que salta aos olhos e revela a aguda degeneração de princípios e valores de parte de denominações ditas evangélicas,  envolvidas despudoradamente na campanha de Bolsonaro. Falam em defesa da família apoiando um candidato que está no 3º casamento e que tem um histórico de vida promíscua no campo sexual (ver aqui e aqui). Se dizem cristãos, mas apoiam quem prega ódio e violência e descaso contra mulheres, indígenas, negros e homossexuais (ver aqui).
Cristianismo sempre teve haver com o amor incondicional de Deus aos pecadores e este é o sentido maior da crença na redenção proporcionada pelo sacrifício de Jesus na cruz. Cristo diz que devemos perdoar o nosso irmão infrator 70 vezes 7 (Mateus 18:22), mas, no catecismo farisaico dos líderes que apoiam Bolsonaro, está dito que bandido bom é bandido morto. Seria bom lembrá-los que os fariseus de Jerusalém, muito provavelmente, disseram o mesmo quando observavam com alegria a agonia de Jesus na cruz.  Em troca de promessas já acertadas nos bastidores, os fariseus de 2018 rasgam o evangelho de Cristo em troca de mais poder, fama e influência (Será que tem concessão de TV e Rádio no pacote?).
A palavra de Cristo, dita há mais de 2 mil anos aos fariseus de Jerusalém, vale também para os fariseus brasileiros de hoje: guias cegos e hipócritas, como escaparão da condenação ao inferno?

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