Por Fernando Lobato_Historiador
“Thuthuca vem aqui com seu tigrão.
Thuthuca, vou te dar muita pressão!”, trecho de um funk de sucesso, veio à tona
na sessão da CCJ na Câmara dos Deputados e acabou marcando a passagem do
ministro banqueiro Paulo Guedes por lá. Nas mais de quatro horas em que esteve
diante dos deputados para convencê-los da necessidade de sua proposta de
Reforma da Previdência, Guedes tentou mostrar que é um tigrão em previdência e
que o regime de capitalização fará um bem danado ao Brasil. Para tanto, repetiu
várias vezes, é preciso cortar R$ 1 trilhão nas despesas previdenciárias nos
próximos 10 anos. Para chegar ao tal trilhão em cortes, nosso tigrão ministro
propõe atacar os “abutres” que, de forma privilegiada, dilapidam nossas contas
públicas.
O
problema é que os “abutres” a serem vitimados pelas garras de nosso ministro
tigrão não são políticos, procuradores, juízes ou militares de alta patente
que, ao se aposentar, recebem valores bem acima do teto do RGPS, mas trabalhadores
rurais, funcionários públicos, professores e a massa urbana assalariada do
país. É contra eles que o tigrão banqueiro Guedes mostra suas garras para buscar
fazê-los trabalhar muitos anos adicionais para se aposentar (ver aqui a calculadora do DIESE explicando como ficará cada situação). O bom senso de um deputado de oposição lhe
sugeriu que, em vez de infernizar ainda mais a vida de quem já é dilacerado
demais por outra fera, o leão da receita, nosso tigrão ministro buscasse tributar
os detentores de grandes fortunas e os que lucram horrores no mercado de
capitais. Se a questão é fortalecer as contas públicas, melhor seria tirar de
quem tem muito em vez de tirar de quem já não tem quase nada.
A clara
contradição na fala do ministro tigrão constrangeu até mesmo os deputados do
governo que estavam ali para defendê-lo. Estes se limitaram a aplaudi-lo em
alguns momentos, tipo macaquinhos de auditório. Para mudar a impressão que
ficou, o tigrão disse que suas garras também serão afiadas contra o andar de
cima e que logo viriam medidas para taxar as grandes fortunas e rentistas como
ele próprio. O tigrão ainda repetiu a lenda de que é preciso o corte imediato
desse trilhão nas contas para que o Brasil destrave sua economia e gere empregos,
mas um outro deputado lhe disse o seguinte: como é possível crer que o corte de 1 trilhão em 10 anos, ou seja, 100 bilhões por ano, tenha o poder de destravar a economia quando se gasta mais de 460 bilhões anualmente somente com
juros pagos aos banqueiros pela rolagem da dívida pública?
O
que trava a economia, portanto, não é o gasto com a previdência e sim os juros altos da dívida com banqueiros como Guedes, mas nosso tigrão ministro buscou ignorar
a fala do deputado. Até aquele momento, o tigrão conteve sua
ferocidade, mas quando o deputado Zeca Dirceu lhe disse que seu comportamento
diante do andar de cima não é de tigrão e sim de THUTHUCA, ela veio a tona igual represa que se rompe. Thuthuca é a sua mãe, seu pai e sua vó, devolveu o ministro tigrão. E assim, com a ferocidade descontrolada do banqueiro ministro,
terminou a sessão da CCJ do último dia 02/04. A irritação e descontrole do
ministro fazia todo sentido: o recurso comparativo do deputado Zeca Dirceu para
falar de um banqueiro como reformista da previdência foi precisa: tigrão com o andar de baixo e thuthuca com
o andar de cima (ver aqui).
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