O tribunal, a sentença de morte e o mundo que tem medo e ódio de Jesus


Por Fernando Lobato_Historiador

       E mataram a Jesus de Nazaré!”, diz a música do Padre Zezinho (ver aqui). Qual a motivação? “Seu jeito honesto de denunciar mexeu com a posição de alguns privilegiados”, responde a mesma música. Qual o instrumento usado pelos privilegiados? A música também responde: o tribunal. Desde tempos imemoriais, portanto, os privilegiados manipulam tribunais para atacar e se livrar de quem os incomoda. Alguma conexão com o Brasil da atualidade? Respondam vocês! A omissão do estado diante das injustiças é uma realidade muito antiga que também foi vivenciada por Jesus, visto que Pilatos poderia, de ofício, livrá-lo da injusta acusação, mas, para ser  "politicamente correto"preferiu lavar as mãos, dando a entender que um mero gesto ritual era capaz de inocentá-lo da cumplicidade com o mal-feito (ver Mateus 27:24).
No tribunal que lhe condenou à pena de morte, o jovem da Galiléia – periferia do mundo judeu - foi vítima do jogo de interesses que permite a ocupação de cargos honrosos e de grande poder por pessoas sem a mínima reputação. Caifás, supremo juiz do Sinédrio (tribunal religioso), chegou ao  cargo pelas mãos de Herodes, tido como rei corrupto, cruel e devasso, mas, apesar disso, reconhecido como tal pelos rabinos judeus, os líderes religiosos da época (ver aqui). Caifás, portanto, para desfrutar das benesses e privilégios do cargo,  não se esquivava de praticar crimes e injustiças em favor da elite que se dizia filha da tradição e dos bons costumes deixados por Moisés, ou seja, dos homens "bons".
Os maiores incomodados pelo jovem galileu eram, portanto, aqueles que deturpavam a religião para adaptá-la aos interesses mundanos e egoístas das elites da época, ou seja, os líderes religiosos corrompidos. Os interesses escusos, assim como a falta de sabedoria dos homens, disse o apóstolo Paulo, foram os motivos por detrás da crucificação de um jovem incômodo (ver I Cor 2:8). Quem ler o capítulo 23 de Mateus vai entender perfeitamente o motivo disso, visto que aquele jovem galileu, além de valente e corajoso, tinha uma língua afiada que feria e cortava profundamente (ver aqui).
A tradição que foi criada em torno de Jesus fez dele um cordeiro dócil e servil conformado com seu destino. O próprio Novo Testamento, porém, nega isso isso de forma inequívoca ao nos dizer que, aquele jovem orou muitas vezes para que seu destino fosse modificado. Não foi sua vontade, portanto, que o fim de seus dias na Terra se desse pregado numa cruz (ver Mateus 26:38-44). Ele, por fim, aceitou esse destino por não ter outra opção, visto que nem mesmo seus apóstolos tinham uma compreensão adequada do que ele buscava disseminar na mente e no coração das pessoas.
 Eis o porque dele ter dito que seu reino (governo) não era desse mundo. Não porque achasse que não tem como ser realizado, mas porque, no seu tempo, não havia quase ninguém para levar seu projeto adiante e nem mesmo para defendê-lo de seus inimigos (ver João 18:36) . Eis porque, conforme diz a música do padre Zezinho, o mundo ainda continua com MEDO DE JESUS. Se ele voltasse nos dias atuais, com toda certeza, não seria bem-vindo, pois logo atrairia o ódio de muita gente rica e poderosa ao dizer que elas não terão lugar no reino de Deus caso não abram mão da riqueza em favor dos pobres (ver Mateus 19:21-24)
Seguir  o exemplo de Jesus, na prática, significa não dedicar sua vida ao acúmulo de bens materiais (ver Mateus 6:19-21). Significa procurar agir com justiça e correção, mantendo postura digna diante de toda e qualquer pessoa. Significa não faltar com a verdade e fazer o bem sem pretender levar alguma vantagem com isso. Significa ter firmeza moral para aceitar receber um tapa na cara de alguém para dar-lhe a chance de enxergar a própria vilania.
O reino que Jesus pretendia formar seria nobre não por conta de cabeças coroadas, mas pela dignidade e bondade das pessoas que o formariam, ou seja, ele tinha em mente o ideal de uma sociedade caracterizada pela liberdade, justiça e fraternidade. Ideal antigo e perseguido pelos homens desde tempos imemoriais, mas que continua distante de nós por conta da ignorância e da maldade. 
Ideal que, no Natal, é ocultado e tirado de foco pelos presentes de Papai Noel, e, na Páscoa, por ovos de chocolate atribuídos a um animal que nem sequer põe ovos. E apesar de todas essas contradições e incoerências, o mundo ocidental e capitalista ainda insiste em se dizer CRISTÃO. Dá pra acreditar?

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