Por Fernando Lobato_Historiador
A globalização não é um fenômeno
novo, muito pelo contrário. Teve início com as redes de comércio dos impérios
da antiguidade – Roma foi destaque – e se afirmou, na Idade Moderna, com a
expansão do capitalismo comercial dos estados nacionais europeus. A
globalização, ao mesmo tempo em que lubrificava as engrenagens da economia
mundial, expandia e disseminava também a barbárie. A civilização capitalista
não produziu um mundo com maior civilidade, visto que uma grande “selva” internacional
foi estabelecida.
Usando o nome
de Cristo e servindo ao deus Mamon, o deus do dinheiro, os “leões” coroados de
Portugal, Espanha, França e Inglaterra disseminaram a escravidão e a exploração
de indígenas, africanos e asiáticos. As veias da América Latina foram abertas,
escreveu Eduardo Galeano, para que delas jorrasse ouro, prata, diamantes,
açúcar, tabaco, algodão e um monte de outras riquezas para o luxo e boa vida
não apenas dos “leões” coroados, mas também dos “leões” não coroados a eles
associados– os grandes burgueses.
Na selva onde os "leões" são reis, não há direitos
humanos nem democracia, vale a lei dos mais fortes. Todavia, para derrubar
e afastar os “leões coroados”, os “leões” não coroados “acenderam as luzes” da liberdade,
igualdade e fraternidade. Palavras que, em tese, serviriam de base para um
mundo menos selvagem que acabou não se realizando.
Veio a 1ª
Revolução Industrial e, passada a “tempestade” das grandes revoluções liberais,
que promoveram o regime republicano e a sacralidade dos direitos humanos, a
selvageria voltou a se expandir e dominar com a 2ª Revolução Industrial e a
corrida imperialista que descambou na insana carnificina da 1ª e
2ª
Guerras Mundiais. Os leões são animais narcisistas, egoístas, cheios de si, mau
humorados e irritadiços, espaçosos, violentos e não admitem dividir seu domínio
com outros leões.
Costumam,
portanto, brigar com outros leões, quando estes ameaçam o seu reinado. Bolsonaro
está correto ao se comparar com um leão, pois demonstra ter todos os defeitos citados
acima. Assumiu achando que, ao se cercar de generais por todos os lados,
poderia amordaçar e amarrar o Legislativo e o Judiciário, tal como fizeram os
ditadores de 1964 a 1984. Fez pacto de aliança com um monte de outros com leões
e leoas acreditando que estes o obedeceriam como um “leão-mor” - de direito
divino.
Deve ter entrado
em transe – ou surto - ao ouvir os “leões” do protestantismo anunciando-lhe
como messias tupiniquim. “Leões”, da espécie fascista, como sabemos, adoram ser
chamados de messias. Dória, Bivar,
Frota, Joice, Witzel e outros, porém, não aceitaram divinizar Bolsonaro, pois
também tem espírito leonino, de modo que a briga travada entre eles jamais
poderia ser discreta e camuflada, pois o instinto narcisista, agressivo e
barulhento da espécie não permite.
A apologia de
Bolsonaro à Ditadura Militar, portanto, nunca foi gratuita e ingênua. Quando
manda seus filhotes tocarem os trompetes da volta dos anos de chumbo, espera
que a “selva” aplauda e diga sim para suas pretensões. A selva, porém, tem
outros leões e todo leão, já dissemos, não aceita dividir território com outro.
Maia, Alcolumbre e o STF, portanto, precisam e devem, para o nosso bem
coletivo, agir como “leões” perante Bolsonaro, pois correm o risco de acabar escorraçados
por quem não quer ser apenas um “leão”, mas um “leão” coroado, tal como os monarcas
absolutos.
As redes e
bunkers de fake news cumprem o papel que a tática fascistóide de guerra
midiática lhe destina e ela, num vídeo recente, transformou os outros “leões”
da república em hienas. Não o são, pois hienas vivem de restos e migalhas e não
é o caso de nenhum deles. Apesar disso, nos farão um bem danado cercando e
intimidando o “leão” esquizofrênico que delira e sonha ser o Pinochet
brasileiro.
Fora do
círculo dos leões, a selva abriga também os elefantes. Embora grande e
poderoso, o elefante é um animal herbívoro, ou seja, não mata nenhum outro
animal para se alimentar. Além disso, costuma ser dócil e, exatamente por isso,
pode ser domesticado, explorado e feito de bobo nos circos da vida. Individualizado
e isolado na selva, torna-se presa fácil dos leões. Reunido a outros elefantes e desperto na sua
fúria animal, porém, não há nada capaz de lhe controlar.
Não há
ajuntamento de leões que segure ou faça frente a uma manada de elefantes em
fúria. No Chile e no Equador, vimos a movimentação de uma “manada de
elefantes”. Por mais forte e atrevido que seja um leão, com apenas uma patada
certeira, o elefante o esmaga e o deixa estirado no chão. O medo do movimento
da “manada” no Equador e no Chile, deixou os “leões” bolsonaros em polvorosa. Imaginando a
força da patada dos elefantes, Eduardo Bolsonaro quer apelar para um novo AI-5.
Não tem AI-5
capaz de conter a fúria de uma “manada de elefantes”. Todavia, os “elefantes”
brasileiros, como historicamente acontece, permanecem cativos, submissos e
explorados no grande circo que aqui continua sem prazo para ir embora. É muito
pouco provável que assumam a forma de uma manada em fúria, mas a imprevidência
das reformas de Guedes e o agravamento da crise econômica podem mudar o
cenário. A prudência política exigia
que, em vez de estimular a fúria e o sentimento de manada dos “elefantes” e
“elefantas” brasileiros, pelo menos fosse mantida a conciliação de classes da
era petista.
Os interesses
hegemônicos dos EUA, cada vez mais ameaçados pelo avanço chinês, nos empurraram
para o impeachment de Dilma, a posse de Temer e a ascensão de Bolsonaro através
de uma blitzkrieg de Fake News, que foi decisiva nas eleições 2018. Estamos numa
condição neocolonial e os “leões” a serviço do grande capital (Guedes e cia
S/A) estão soltos e famintos. Uma frase
sintetiza a nossa necessidade: “elefantes” e “elefantas” do Brasil uni-vos, os
“leões” nos espreitam e querem nos devorar!
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