Por Fernando Lobato_Historiador
O impeachment
de Dilma Roussef não teve relação com irresponsabilidade fiscal ou com atos de corrupção. Esta é a versão inocente que vai aparecer nos livros didáticos, mas que não condiz com a realidade histórica. Dilma
caiu porque cometeu erros na política econômica que se traduziram em perda de apoio
na sua base social, mas, sobretudo,
pela tramoia articulada entre os establishments nacional e norte-americano. Foi a tramoia revelada no áudio vazado de Romero Jucá com Sérgio Machado e amplamente conhecida do público brasileiro (ver aqui). Essa tramoia foi urdida com um fim bem específico: tirar a nau brasilis da rota
do nacional desenvolvimentismo instituído com a posse de Lula para pô-la na
direção de um neoliberalismo refém dos interesses geopolíticos dos
EUA.
O crescente papel
do estado na economia brasileira, bem como na argentina, boliviana, uruguaia,
equatoriana e, principalmente na venezuelana, somado à crescente integração
destas na órbita de influência da China e da Rússia, motivaram a reação dos EUA
para o restabelecimento inconteste de sua hegemonia numa região que considera extensão
natural dos seus domínios. O impeachment
contra Fernando Lugo (Paraguai), o isolamento e contínua pressão sobre Maduro
(Venezuela), a ascensão de Macri (Argentina) e de Bolsonaro (Brasil), o golpe contra
Evo Morales na Bolívia são eventos plenamente sintonizados com essa reação.
Temer foi guindado
à presidência para por a nau brasilis na proa do neoliberalismo refém de
Washington e a crise dos combustíveis que produziu a greve dos caminhoneiros de 2018 foi um efeito colateral dessa mudança (ver aqui). Para impedir a volta da nau à proa anterior, Lula foi impedido de concorrer nas
eleições de 2018 através de manobras jurídicas. Evidência disso é o fato de que, depois da rapidez e eficiência na condenação e prisão de Lula, nossa justiça voltou à vagareza de sempre. Temer,
Romero Jucá, Aécio Neves, Renan Calheiros, Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Collor, Eunício
de Oliveira e muitos outros implicados na Lava-jato permanecem
livres, leves e soltos e não são sequer incomodados, nem mesmo pela mídia
histérica que bradava diariamente pelo combate à corrupção.
A aprovação da
emenda constitucional n° 95 (congelamento do teto de gastos por 20 anos), da
reforma trabalhista e da reforma previdenciária, já no governo Bolsonaro, foram
momentos chave para manter a nau brasilis na proa definida por Washington.
Com Bolsonaro apenas assinando papéis e Guedes no timão, o novo curso estava prestes a se afirmar ainda mais com a PEC Emergencial e as reformas administrativa e tributária. Para impedir qualquer resistência popular às mudanças, chegou-se mesmo a pensar no restabelecimento da ditadura militar usando o pretexto de sempre (o perigo vermelho ou comunista!).
E quando tudo parecia definido, eis que aparece um torpedeiro de nome corona vírus. Com seu imenso poder de fogo, ele faz estragos nas embarcações neoliberais pelo mundo afora. Trump já disponibilizou trilhões de dólares
para tapar os buracos de sua nau imperial (ver aqui). Bolsonaro, peão no xadrez geopolítico do
império, foi abandonado à própria sorte. Atônito, recusa acreditar que será
derrotado por um ser microscópico.
Ele nega o corona vírus, faz chacota dele e pede que todos o ignorem e voltem à vidinha precária, improvisada e mambembe que caracteriza o cotidiano da nau brasilis, mas o fato é que ela corre sério perigo. Para enfrentar as ondas contrárias, vai ser preciso agigantar aquele que Guedes queria transformar em
pigmeu: o estado nacional.
A tramoia neoliberal, no fim das contas, vai dar com os burros nágua e o culpado não será o povo nas ruas em fúria como os neoliberais tanto temiam. o grande problema é a falta do povo na rua, ou seja, para consumir e fazer a roda capitalista girar. Bolsonaro chama os seus para ir às ruas desafiar o corona vírus, mas os governadores estão dispostos a impedi-los e até prendê-los se for preciso.
Bolsonaro questiona se o Brasil se transformou na ditadura que ele tanto gostaria ver de volta (ver aqui), mas o fato é que, para que assim fosse, teria de haver torturas, prisões e assassinatos com patrocínio do estado. A segurança nacional acionada em tempo de corona vírus não tem como fim a morte de opositores, mas a salvação de vidas. Tudo isso é extremamente irônico e seria cômico se não estivéssemos na iminência de uma grande tragédia.
A tramoia neoliberal, no fim das contas, vai dar com os burros nágua e o culpado não será o povo nas ruas em fúria como os neoliberais tanto temiam. o grande problema é a falta do povo na rua, ou seja, para consumir e fazer a roda capitalista girar. Bolsonaro chama os seus para ir às ruas desafiar o corona vírus, mas os governadores estão dispostos a impedi-los e até prendê-los se for preciso.
Bolsonaro questiona se o Brasil se transformou na ditadura que ele tanto gostaria ver de volta (ver aqui), mas o fato é que, para que assim fosse, teria de haver torturas, prisões e assassinatos com patrocínio do estado. A segurança nacional acionada em tempo de corona vírus não tem como fim a morte de opositores, mas a salvação de vidas. Tudo isso é extremamente irônico e seria cômico se não estivéssemos na iminência de uma grande tragédia.
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