O povo, o gado e a bosta

Por Fernando Lobato_Historiador

Povo, na moderna sociologia, tem haver com a reunião de indivíduos conscientes de seus direitos e deveres como integrantes de uma sociedade organizada na forma de um ESTADO. Povo, portanto, dentro duma perspectiva democrática, tem relação com a reunião dos que são considerados cidadãos, ou seja, dos que contribuem para a existência e funcionamento do estado e, por conta disso e da solidariedade que preside a relação entre os cidadãos, é amparado por este através de uma série de bens serviços.

 O estado deve, nessa forma moderna de organização, estar estruturado sobre dois pilares fundamentais: a DEMOCRACIA como regime de governo e a garantia dos DIREITOS HUMANOS como princípio geral. Essa estrutura foi a promessa feita, pelo menos no discurso, pelo LIBERALISMO, ideologia política dominante no mundo pós Revolução Francesa. É fato que, em muitos lugares, e o Brasil é um deles, trata-se de uma promessa que carece de ser cumprida integralmente, bastando citar, como um entre muitos exemplos, os milhões e milhões de brasileiro(a)s que tiveram de enfrentar filas quilométricas para receber o auxílio emergencial de R$ 600,00 por conta da pandemia da COVID-19 (ver aqui). 

Gado, segundo o dicionário informal (ver aqui) pode ser tanto o conjunto de animais reunidos no campo por um criador como o conjunto de pessoas que são facilmente enganadas ou manipuladas por lideranças inescrupulosas, principalmente no campo da política e da religião. A palavra "gado", nesse segundo caso, tem haver com aqueles que se movimentam em função de promessas atraentes ou de emoções não balizadas pela racionalidade. Esse tipo de gado, portanto, tem baixa capacidade de avaliação crítica da realidade e, exatamente por isso, tem tendência a se deixar levar por mitos e mitologias, bem mais atraentes, isso é fato, que a abordagem científica da realidade.

Povo, de verdade, não acredita em messias e nem em salvadores da pátria. Povo de verdade, está sempre desconfiado em relação a todo e qualquer governo, seja ele de esquerda, direita ou de centro. Povo, de verdade, acredita no império da lei e da ordem construída com sua ampla e irrestrita participação. Povo, de verdade, não abre mão da democracia e se revolta contra os que atentam contra os direitos humanos. 

Povo, de verdade, não transfere representação para chefes militares e, exatamente por isso, não precisa e não tem necessidade de intervenções militares em seu nome. Quem fala tal absurdo, não vê os brasileiro(a)s como povo, mas como o gado acima mencionado. Todo Ato Institucional (AI) editado pela Ditadura Militar (1964 a 1984) falava em ameaça comunista e na necessidade de defesa da democracia e da liberdade, mas, na prática efetiva do estado, tratava nosso povo como o gado do primeiro tipo, ou seja, como rebanho a ser criado e abatido para gerar riqueza para os seus donos(ver aqui).

Zé Ramalho,na famosa música, cujo título é "ADMIRÁVEL GADO NOVO", retratou com primor a época da DITADURA MILITAR (ver aqui) que, de muitas formas, permanece viva até os dias atuais. Quando Bolsonaro exalta essa época e reúne o seu gado particular diante do Planalto dizendo que as forças armadas estão com o "povo" (ver aqui), na verdade, busca encorajar ataques contra o povo de verdade, ou seja, contra a  DEMOCRACIA e contra a promessa de garantia e respeito aos DIREITOS HUMANOS. 

A ordem que Bolsonaro e sua horda de fascistóides quer é exatamente aquilo que definimos como CAOS político e social. Somente no caos há uma propensão à aceitação do é visto como INACEITÁVEL. Ele quer permissão para liberar toda a selvageria que a ordem vigente lhe obriga a reprimir. Esse caráter reprimido é a essência de todo fascistóide, que, normalmente, é alguém frustrado e ressentido.  Hitler, por exemplo, era cheio de frustrações, mas quando outros frustrados lhe disseram que era o "messias" destinado a salvar a Alemanha do comunismo, creu firmemente nisso e, apoiando-se nessa crença, fez todas as barbaridades que levaram muitos milhões à morte sem sentido.

Bolsonaro já falou que gostaria de matar 30 mil (ver aqui) e, no Brasil sobre seu comando, a COVID-19 caminha para o alcance e ampla superação desse número, eis, talvez, um dos motivos que explique o seu NEGACIONISMO das medidas de isolamento social que já resultaram na demissão de dois ministros da saúde. Não bastasse isso, ainda quer disseminar o uso da CLOROQUINA que, conforme revelado em estudo, em vez de curar o doente, ajuda a matá-lo de outras formas (ver aqui).

Fascistóides como Bolsonaro, intimamente, tem plena consciência da própria mediocridade, ou seja, se sentem como bosta, mas não aceitam essa realidade e, via de regra, tratam e chamam todo mundo de bosta (ver aqui). Fascistóides jamais serão líderes de um povo, porque povo, de verdade, não se deixa liderar por eles. Fascistóides, portanto, somente são capazes de reunir e guiar o próprio GADO e o vídeo da reunião de 22/04, liberado para o público por decisão de Celso de Melo, é um claro exemplo disso. O rei do gado dava patadas enquanto seus servis ministros buscavam agradar seus ouvidos falando coisas como "passar por cima do congresso aprovando todo tipo de lei"(Salles), "prender prefeitos e governadores" (Damares) "e os vagabundos do STF" (Weintraub).  

O rei do gado, com toda certeza, deve ter adorado, todo aquele show de horrores,  pois fascista adora acreditar que pode fazer tudo o que quiser e que nada pode lhe impedir. Eis o sentido da frase "vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? troca o ministro" (ver aqui). Seria desnecessário dizer que governo fascista faz bosta o tempo todo de propósito, pois odeia a limpeza, a higiene e os bons costumes. O grande problema é que é o povo que ele governa quem acaba enfiado até o pescoço na mesma. Eis, infelizmente, a realidade de nosso povo num dos momentos mais difíceis de nossa História. Tirar urgentemente o fazedor de bosta da presidência é uma questão de sobrevivência.  

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