O Bolsomonarquismo, o papel histórico das FA e a guerra de secessão brasileira


 por Fernando Lobato_Historiador

A História da América Latina, nela inclusa a do Brasil, está repleta de golpes de todos os tipos.  Na História do Brasil, D. Pedro I foi o autor de dois golpes em pouco mais de um ano. No primeiro, golpeou o regime de seu país ao proclamar, para felicidade da elite escravocrata do Brasil, nossa separação de Portugal. A liberdade foi proclamada, mas é importante aqui esclarecer que, para nossa elite agrária e escravocrata ligada, principalmente, à exportação de café, liberdade era sinônimo de livre comércio com os ingleses. No segundo, golpeou o Brasil dito independente ao impor seu poder pessoal sobre os que lhe chamavam de mito ou herói.

No primeiro golpe, a elite portuguesa, ansiosa pela recolonização do Brasil, foi quem saiu ferida (ver aqui). No segundo, quem saiu machucada foi a elite escravocrata brasileira, ansiosa por fazer dele um rei à moda inglesa, ou seja, com poder apenas decorativo, para que, no controle do estado, ela pudesse ter mais garantias para manter indefinidamente duas coisas: a escravidão e a exclusão da grande maioria da população de qualquer participação na vida política do país. D. Pedro I, porém, não queria ser um rei decorativo, queria governar ao estilo dos monarcas absolutos, de modo que, em novembro de 1823, ele dissolveu a Assembleia Constituinte eleita pela elite para, em seguida, impor a ela e a todos os brasileiros, uma constituição que lhe permitia governar com mão de ferro (ver aqui) .

Quem com mão de ferro governa, com ferro será posto para fora. A monarquia  brasileira, portanto, voltou, forçadamente, para Portugal através do ferro laminado da espada do Exército. Exército que, é importante que se diga, já era abolicionista e republicano antes da Lei Áurea e do golpe que inaugurou a república (ver aqui). Deodoro da Fonseca, porém, não era republicano, mas monarquista, razão pela qual decidiu, para governar com a mesma mão de ferro de antes, golpear a república que ele proclamara em novembro de 1889 (ver aqui).

Foi o ferro laminado da espada do Exército que evitou a volta da monarquia quando a Marinha, a banda monarquista das FA na época (ver aqui), se voltou contra o governo de Floriano Peixoto. A república balançou para lá e para cá, mas não caiu, de modo que a ordem republica sobreviveu, mas não sem graves sequelas. A república e a democracia no Brasil até hoje capengam porque políticos excessivamente ambiciosos e nossa elite devota de Mamon - o deus do dinheiro - querem continuar governando com mão de ferro, ou melhor, ferrando a grande maioria dos brasileiros. 

Em 2016, o Brasil assistiu a ascensão ao poder de um movimento claramente anti-republicano. Derrotado nas urnas, sabotou o país para criar uma crise artificial que lhe permitisse justificar o golpe que deram em nossa frágil democracia. Não satisfeitos com a ditadura camuflada de hoje, querem, ao perceber a derrota nas urnas em 2022, criar uma ditadura desavergonhada. Eles inventam bodes expiatórios para fazer avançar as pautas bolsomonarquistas, ou seja, a manutenção da miséria do povo para que, fraco e desesperado por migalhas, aceite a destruição por completo da república.  A Constituição de 1988 foi o que melhor foi produzido nestes quase 132 anos republicanos, mas tem contra si o ódio dos que querem a volta do regime da mão de ferro.

A República passou a ser ainda mais odiada pelos bolsomonarquistas quando um metalúrgico sentou na cadeira presidencial, apesar dele ter adotado, eleição após eleição perdida, uma postura cada vez mais tolerante e conciliadora com nossa elite monarquista, hoje aliada do neofascismo. A retórica continua a mesma desde que o PCB foi fundado em 1922, ou seja, conter o avanço do comunismo no Brasil apesar do PT, nos 13 anos em que ficou no poder, não ter tentado nenhuma grande reforma social no país. Comunismo para o bolsomonarquismo é toda ação governamental que diminua, ainda que minimamente, a lucratividade estratosférica das elites, razão pela qual defendem a volta da escravidão legalizada.

Para que a roda da história se mova para o passado, nossa elite bolsomonarquista trabalha, portanto, pela volta de um regime plenamente ditatorial. Até hasteamento da bandeira imperial tem sido feita para saudar a "era" inaugurada com o impeachment de Dilma (ver aqui). O Brasil, desde então, tem estado dividido entre republicanos e bolsomonarquistas. No dia 07 de setembro de 2021, os bolsomonarquistas fizeram seu primeiro ensaio geral. Logo logo voltarão à carga contra a república porque já desistiram das eleições de 2022. Eles não querem eleição, querem implantar sua ditadura bolsomonarquista antes que ela ocorra. 

Enquanto tramam contra a república, os bolsomonarquistas tentam a legalização da volta da escravidão (ver aqui e aqui). Como aconteceu nos últimos momentos ditatoriais do país, no Estado Novo (1937-1945) e na Ditadura Militar (194-1985), nossa elite reacionária teve o apoio das FA e, hoje, mais uma vez, chamaram-nas para garantir o sucesso de seu projeto anti-republicano. Diferentemente do Estado Novo e da Ditadura Militar, não há perspectivas de melhorias no campo econômico para mascarar o regime ditatorial. O povo sofre muito e tende a sofrer ainda mais caso esse projeto autoritário continue avançando. 

As FA, conforme já dissemos, nem sempre estiveram comprometidas com os reacionários, pois foram fundamentais para a implantação da república e para o fim da escravidão legalizada, visto que a escravidão ilegal até hoje persiste em nosso país. Nosso desejo é que voltem a se colocar do lado dos republicanos e dos abolicionistas. Assim seja!!!!


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